quarta-feira, 19 de julho de 2017

Trissomia

Foi André Lazarra, do alto do seu pódio de autoridade, que afirmou não existir cura para a Trissomia 21, mas existir uma solução. A César Editoras já se opôs várias por vezes ao Síndrome de Down. Contudo essas posições foram constantemente tomadas por um ataque àqueles que comportam a doença. Na grave maioria dos casos os nossos comentários foram prontamente rotulados de "profundamente impertinentes", na companhia dos quais encontrámos sempre uma indagação referente à nossa autoridade em matérias clínicas e uma expectável reprimenda assente no nosso doloroso historial de discriminação. Diga-se, de passagem, que toda a nossa discriminação é positiva, uma vez que visa um fim positivo: o melhoramento da nossa Sociedade.
Com o interpretar do ora vagaroso ora célere andar dos anos vimo-nos sempre diante do mesmo obstáculo, o preconceito. No preciso momento em que se dirige a algo ou alguém, pela honrosa via do comentário ou a alternativa física onerosa, a César Editoras é sempre olhada por cima do ombro e as suas intenções escolhidas ainda antes de se ter pronunciado. Sendo rectos, não escondemos a assaz recorrência com que estas suposições encontram uma correspondência adequada. Mas o princípio, meus senhores, esse sim compreende o pecado original do qual todo o pensamento direccionado à editora radica . Não tentemos viabilizar o preconceito, que não se o olhe pela crescente lente do aceitável. Quão irónico se tornou, nos entretantos, qualquer acusação de preconceito. É verdade, confessamos, que o preconceito parece ser um método eficaz de análise da César Editoras. Mas o princípio! E veja-se como este não só mancha aqueles que tão mal adorna, como também prejudica desnecessariamente a empresa afectada. Pois como se pode desejar que a editora altere as suas danosas idiossincrasias, seus efeitos emanados em todas as direcções,  continuando em simultâneo perfidamente a incorrer no preconceito. Não se compreenderá o paradoxo, ou será este status quo apreendido e aceite, como forma de garantir um afastamento conjunto das investidas césar-editorianas? Porque como poderá a César Editoras pensar em alterar condutas quando todo e qualquer alento, bom ou mau, é recebido pelas mãos cerradas e o olhar amarelo do preconceito? O único intento parece-nos ser espetar mais um argueiro no olho do cão raivoso, encurralando-o junto do canto de tijolo, atiçando o ardente fogo em seus magníficos olhos que urde e exige liberdade, demonizando o bicho até que o desprezo para consigo mesmo seja a engrenagem única do seu movimento. E como procederá este cão raivoso, manchado de mange, rapidamente encontrando o caminho já aparentemente trilhado pela Chupacabra? Odiada pelo aldeão, que crê a todo o custo tê-la já avistado a comer o seu cordeirinho, tão belo e rechonchudo, esquecendo-se precisamente que o seu motivo em nada difere do pobre demónio por si mesmo congeminado. Esse cordeiro, pobre e mal tratado, de destino traçado desde o momento da criação, não é mais do que a alma do Homem, mas uma alma pura e livre da sapiência, aquela pronta para que lhe atirem areia aos olhos. E o aldeão, inconsciente a um nível preterível, não o compreende e, à medida que os seus pensamentos se tornam gradualmente mais confusos e equivocamente interligados, começa a ver no seu próprio rafeiro o culpado. O único culpado! Oh, pobre Labadeiro, velho e fiel. És agora o enviado da injustiça! Com quantas vergastadas se quebrará a tua lealdade, com quantas se estilhaçará o manto de confiante loucura  que cobre agora a vista rarefeita do nosso pobre aldeão, também ele uma vítima. Mas como escolher uma vida melhor, se nada dela sabemos. Quietinho no monte alcançou uma certa paz interior, mas na presença dos inexoráveis males acredita, com a ajuda do seu cajado treinado, haver sempre um culpado que não ele. Na acinzentada floresta de arcipreste se esconde, o pelintra. E quando não aparece, pergunte-se porque razão o faria, são aqueles de quem ele nunca desconfiaria que lhe armariam a cilada. Compraz-te nas tuas deambulações, oh velho pastor. Pois tudo o que te preenche neste momento em que a pacatez do campo é inteiramente substituída pela paranóia debilitante é o preconceito para com todo o ser que te rodeia. Te hás tornado numa besta também, a vítima do preconceito. E de que forma se liberta um homem acorrentado das suas amarras, senão com a ajuda daqueles que o vêem intrujado? E porque grita quando se aproximam? Porque esboça a branca espuma? Porque se recosta no seu canto atijolado? Porque razão se vê incapaz de se situar no espaço?


César Editoras



Sem comentários:

Enviar um comentário