quarta-feira, 16 de março de 2016

"O que é o Corpo Humano?", Artigo de Lenocínio Baptista

O nosso advogado estagiário recebeu um convite da revista científica moçambicana Filhos de Deus, cujo público alvo são crianças literadas, para escrever um texto sobre a complexidade do nosso corpo. É tempo de relembrar que não o teria conseguido sem o seu esforço, claro, mas também toda a exposição que um posto na nossa empresa lhe oferece.
Aqui vai:

"Averiguando a Estrondosa Complexidade da Nossa Materialidade. Uma Reflexão Crítica sobre a auto-compreensão a posteriori do Corpo Humano", por Lenocínio Baptista


"Já parásteis para pensar naquilo que efectivamente compõe o corpo humano? Nos infinitos fluídos e tecidos encobertos que perfazem a nossa vida? Quão curioso é pensar que, embora sejamos racionais e sobre isso não pensemos diariamente, no final de contas somos apenas um saco de carne destinado ao apodrecimento, composto (nova curiosidade), segundo a lei de Lavoisier e comprovado por estudos, por compostos celestes que provavelmente habitaram noutros tempos numa belíssima e longínqua estrela aquando dos primeiros passos do Universo, há 13.8 biliões de anos?
Mas todo o nosso ser é condenado à redução ao físico e psicológico. Geralmente debruço-me sobre temas do foro psicológico, mas hoje, atiro-me à vertente física do ser humano, sem lhe desejar qualquer mal.
Note-se na quantidade de pessoas que, absortas, não estão cientes daquilo que possuirão durante uma vida inteira. Médicos, de nível dificilmente inigualável ainda hoje demonstram grandes dificuldades em compreender o cérebro humano e o seu funcionamento de forma total.
A vida, um milagre uns alegam, é de facto fascinante.
Certas estatísticas são motivo de verdadeiro susto. A mais recente que descobri não me vem clara à memória, mas é referente à quantidade de quilómetros que o sangue navega no espaço de 24 horas.
Factos como o seguinte também têm o seu impacto. O intestino delgado estende-se ao longo de 9 metros num Homem adulto. Mas que fazem 9 metros dentro de um ser de 1 e setenta? Porque não estão melhor distribuídos? Serão estes importantes na medida em que prolongam uma digestão que de outra forma seria mais curta e, portanto, não nos obrigam imediatamente a defecar após uma refeição e nos permitem ser lentamente surpreendidos pela fisiologia e prender, via esfíncter, a carga que nos apressa? Não sei, mas uma coisa é certa, motivam crescimentos anormais de ténias!
Passando ao ponto seguinte, falemos do maior órgão do ser humano, aquele que me custa a acreditar que é realmente um órgão. Em primeiro lugar é preciso definir o que é um órgão. Não consigo, mas a pele com certeza não é um. O facto de ser um órgão só beneficia criancinhas que o aprendem e com esta informação podem surpreender os amigos desnaturados que pensam que a resposta é "Intestino". Mesmo assim, e os pulmões, cuja área total ocupa dois cortes de ténis? Bastante grandes, me aparentam. Na verdade, e como nos ensinou Ed Gein, uma pele bem esticada não só nos fascina pela sua utilidade, como também pela sua extensão.
Por último, tenhamos em atenção a nossa fragilidade. Olhai para as vossas mãos e tentai sentir o sangue a correr. Estranho, correcto? Deveras. Agora pensai nos vossos tendões, observando-os elevando os dedos e esticando as mãos e pensai na facilidade com que um se poderá cortar. E agora pensai nas dores esquisitas que sentirdes todos os dias nas várias zonas do corpo e conjugai isso ao facto da vossa consciência se resumir a uma massa cinzenta dentro da qual VÓS estais. A perspectiva pode arruinar um belo momento de lazer e ávida leitura. Em último lugar, arrancai os olhos e estrelizai as vossas sementes reprodutoras com valentes e consecutivos golpes. Qual a vossa utilidade, para vós e para o mundo? Não o conseguem ver, não conseguem reproduzir-se e já não pertencem à espécie, tal e qual uma mula (verificar informação). Não serão úteis àqueles que vos amam, mas apenas de modo pouco prático e egoísta? E que tal oferecer esse saco de carne, que todos somos, à ciência e àqueles que têm condições para ser humanos, mas caminham mais rapidamente que deviam para o não ser? Não é evidente, nem directo, mas a sua plausibilidade e pertinência é causa de algum desconforto.
E por isso se deve conservar o corpo e a consciência, que do físico apenas dependem. Comei bem, não caí em maus hábitos excepto um à vossa escolha (não recomendo promiscuidade de gama baixa), exercitai-vos não em excesso ou de forma obsessiva e fazei aquilo que no vosso âmago vos conforta. Caso não o façam, Jesus vos chamará, ó crianças para junto dele, como fez daquela vez famosa, e onde estão todas essas crianças hoje? Exacto."



César Editoras

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