sábado, 23 de julho de 2016

Ensaio 2º : Lenocínio Baptista

Lenocínio Baptista: "Alegrai-vos! Pois o encontrastes!"

Aquela que considero ser a mais comum das situações, a mais eficaz e utilizada prática pelas figuras de autoridade da Igreja Católica é a ideia da aproximação de Deus ao ser Humano. Quanta hipocrisia. Coube, cabe e caberá sempre ao ser humano tomar a iniciativa e chegar-se a Deus, com o simples pretexto de que Deus para nós já caminha. Talvez o caminho seja longo. A ideia de ter sido encontrado por Deus é uma tremenda ofensa para a divindade omnisciente e criadora de todas as coisas. Na verdade a própria ideia da difusão da fé cristã, da mensagem de Cristo, a evangelização, é uma contradição, tal como os meios vis de outrora.
Essencialmente Deus é um ser omnipotente e absolutamente bom, conhecedor de tudo e criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Uma descrição ambiciosa. Assim sendo, porquê criar a Terra e depositar nela a semente do mal, com a famosa e corrupta desculpa do livre arbítrio, em detrimento de nos ter oferecido, a nós Humanos, de imediato o Paraíso? A liberdade do Homem e a sua propensão para o sofrimento, inevitavelmente inerente a qualquer vivência, foram previstas pelas acções calculadas de Deus. Não nos incute directamente o mal, mas permitiu-o e permite-o. Poderá não ter criado seres perfeitos, apenas à sua imagem, mas aí cai na sua armadilha. Um Deus soberbamente bom não criaria nada capaz de sofrer, pois não erraria. Achar esta "criação" natural seria como considerar natural a tentativa de construção de um Frankenstein, analogamente: Não é perfeito, é criado à nossa semelhança, o seu sofrimento é previsível senão certo e deliberadamente não impedimos o seu sofrimento. A colocação de certas questões é curiosa.
Outra questão curiosa, afastando-nos ligeiramente do tema, é a ideia da evolução, aceite dentro da Igreja Católica e compaginável com a existência de um Deus, a causa primeira de todo este e outros processos. Mas será mesmo? Visitando o afamado jardim zoológico de Berlim passei vagarosamente pelo habitat dos primatas, principalmente dos Chimpanzés. Olhando para ele reflecti. "Este organismo não viajará para o céu, não possui alma". Note-se que a alma, na perspectiva cristã (que aceita de igual modo qualquer visão criacionista), é facultada a todo e qualquer ser humano e não é o resultado da evolução. Note-se também que a doutrina da Igreja ainda não deixou para trás a ideia de que quer Adão e sua esposa existiram materialmente. Regressando ao chimpanzé: Se Deus confere a todo o Homem uma alma, mas não a todo o primata, a partir de que momento começou a praticar estas oferendas espirituais? Há vários milhares de anos o Homem não era muito diferente deste chimpanzé enjaulado que falhou na sua evolução para um ser racional. Quando começou a conferir almas? Porque razão não as deu ao último que não as recebeu? É uma pergunta complicada. Chegados ao céu, veremos homens primitivos, mas mais parecidos connosco do que com o chimpanzé que vislumbrei?
Por fim, terminando com as ideias com as quais iniciei este debate uni-pessoal, considero as várias tentativas de justificar a aproximação de Deus ao Homem uma forma de justificar a aproximação contrária, a única que hoje faz sentido e o fará no futuro, posto que a presença do Deus que guia e protege o Homem na sua criação e a evolução do pensamento humano são inversamente proporcionais. O Homem projecta-se para um Deus elusivo, tentando nele encontrar sentido para a sua vida, que algo de superior e menos terreno necessita. Deus foi necessário, hoje não o é. É, aliás, uma pedra no sapato, se me for permitido colocar assim esta questão, é o motivo de constantes atrasos e dogmas do ser humano que bloqueiam o livre pensamento e as verdades estruturais do animal que o Homem é. O Homem refugia-se numa ilusão, numa presunção e assim vive iludido. A vontade/o desejo de algo ideal e perfeito é diferente daquilo que é a verdade, a realidade. O próximo estádio evolutivo do Homem será aquele no qual as amarras de um Deus não o prenderão e este poderá viver como a espécie o exige, ciente. Talvez, quiçá, também em paz, dado que em nome de nenhum Deus se matará e a intolerância associada a uma crença não se manifestará. Contudo, ao passo a que evoluímos e num mundo muitas vezes determinado por preconceitos, é provável que o Homem se destrua a si mesmo antes de perceber quão limitado esteve nos anos antes. Assim deixará uma marca delével num planeta englobado por uma catástrofe natural ou artificial que se manterá como sempre se revelou: Um bocado de rocha flutuando no espaço, longe de tudo, irrelevante.

Lenocínio Baptista, Advogado Estagiário



sexta-feira, 22 de julho de 2016

Ensaio 1º : André Lazarra (A Vida e A Operação Plástica)


Ensaio de André Lazarra, "Uma Actualização"


Desde tempos imemoriais que o Homem se combate a si mesmo e escolhe negar-se. A dicotomia ou distância entre a consciência e o seu corpo dão-lhe por natureza ao as mais variadas razões para se querer inclinar mais para o lado "superior", em detrimento do "inferior". Não afirmamos, claro, que o Homem tenha as máximas ambições intelectuais, apenas que o seu instinto animalesco de auto-conservação e sobrevivência encontra-se, está claro, bastante presente, tal como as ameaças a este e a tomada de conhecimento destas pelo ameaçado.
Para o Homem o corpo é algo esquisito. Pense-se simplesmente numa única e isolada parte dele, como uma mão ou um pé. O que são eles sozinhos, senão algo extremamente perturbador? O Homem é, essencialmente, uma consciência. Quando nos deitamos na cama, estendidos ao comprido, e vislumbramos a ponta do nosso pé, a quase dois metros de distância é curioso considerar que "aquilo ainda somos nós". O corpo, como sabemos, caminha para a decadência e leva consigo a consciência que comporta.

Mas nos tempos que correm a importância dada ao exterior, ao invés do interior tem-se tornado excessiva. Isto acontece porque as pessoas começam a julgar-se a si mesmas pela capa e esperam o mesmo das outras em relação a si. Não é possível conhecer milhares de pessoas pessoalmente no curto espaço de tempo de que dispomos, pelo que a imagem tende a ser, para demasiadas pessoas, um sumário das nossas qualidades. Quando se é famoso esta situação torna-se clara. Existe portanto uma imagem exterior, pela qual o indivíduo é sobretudo reconhecido, mas uma vertente pessoal que este tenta esconder ou reservar para si que, quando descoberta, aparece em todos os noticiários indignos, mesmo que seja o tipo de pão que consome ao pequeno almoço. Mas quando essa descoberta é embaraçosa, e altamente contrastante com a imagem que a pessoa pretende exteriorizar, compreende-se a necessidade de camuflar tais verdades.
Aquilo que se pretende ser já não se encontra totalmente na esfera cognitiva, mas na esfera da criatura, isto é, o esforço pessoal não se traduz na busca de uma gnose corpulenta, mas de um corpo e imagem que evitem perguntas do ulterior âmbito. Assim se compreende que tantos famosos vivam mais à base da imagem e não do seu trabalho efectivo, como aquela desprezível família arménia que, por ter tido sucesso nos negócios e contactos nos EUA, possui agora um reality show onde influencia incorrectamente as massas e lhes incute estes valores erróneos abordados neste texto.

Tal enfoque no exterior pode ser uma tentativa de perpetuação, aquela de uma atitude, de um "look" que vigorará durante uns anos e será reconhecido ainda depois de substituído, mas na César Editoras não pensamos desse modo. Para nós este enfoque é uma tentativa de moldar a nossa aparência e subjugar a decadência do corpo, tal como fazemos com o nosso intelecto. A operação plástica não é mais do que a tentativa de dar ao corpo a identidade da gnose e assim revelar-se mais facilmente ao mundo, ao mesmo tempo tentando negar as diferenças entre ambas as realidades e o domínio da física sobre a psicológica. O Problema é, contudo, bastante fácil de entender, imediato: Uma pessoa com dois dedos de testa não é aquela que prolonga a sua gnose através da imagem, pelo que aquelas que o fazem exteriorizam geral e paradoxalmente a imagem de uma gnose pouco evoluída. Por sua vez o seu problema é a compreensão inata e involuntária da condição humana, ou seja, a consciência da finitude, inerente a um bicho temporalmente limitado ciente deste mesmo facto aterrador. A tentativa de se exercer o mesmo domínio e controlo sobre o corpo que se possui sobre a gnose e a consciência, não surte geralmente efeitos cuja duração é a pretendida. Ao passo que a imaginação e cenários que de si decorrem são infinitos, o corpo é um meio limitado. A operação vai de encontro às limitações do corpo, tentando de certo modo maximizar o seu raio de acção, dominando o que é passível de ser dominado no foro da decadência. "Eu tenho em mim todos os sonhos do mundo", disse o poeta outrora. Mas a sua realização é anulada pela condição do Homem. E este facto, esta percepção leva a uma série de constantes e fundamentais repressões aos mais altos níveis. A operação plástica, curiosamente é uma luta contra esta condição humana. Quão curioso.

André Lazarra, Consultor Linguístico

sábado, 9 de julho de 2016

Beco do Julião em Obras

Discordaríamos da ousada alma que nos indagasse "Mas não já estava?". 

De facto a natureza decadente e degradada dos nossos escritórios poderá enganar qualquer um. Desde o momento em que o ocupámos, também durante o breve período de tempo em que o abandonámos, até agora o Beco do Julião tem o aspecto de uma obra de recuperação que há muito se encontra estagnada. 

Ao longo do seco período compreendido entre os dias 14 e 27 de Julho a equipa da César Editoras irá dedicar-se não só às tarefas que regularmente desempenha, como também à recuperação do Beco do Julião. Mas em que consiste esta recuperação? O que é possível e necessário efectuar?
Saliente-se, pelas razões evidentes, que devido ao cariz obscuro das nossas actividades não convém à nossa empresa refazer a fachada ou abrir as janelas cimentadas ao público que, espreitando, se assustaria e contactaria por certo sem demoras as autoridades. Se até ao momento nos havemos comportado como quisemos sem repercussões legais frequentes, neste mesmo registo nos manteremos. 

O Projecto:
  • Ligar o Rádio e Tocar Townes Van Zandt.
  • Substituir as tábuas de madeira podres que compõem o chão, exterminando os ninhos de ratos e doseando o chão com valentes quantidades de veneno.
  • Separar a retrete não-funcional da canalização deficiente e cavar um buraco de vários metros até à terra capaz de absorver várias quantidades de fezes e ocasionais diarreias, vomitados e animais.
  • Preencher enormes buracos no chão do segundo andar, reforçando também as tábuas instáveis.
  • Arranjar telhado de modo a impedir novas infiltrações.
  • Limpar quartos inutilizados e criar uma cozinha.
  • Deixar um quarto para as companhias de Lazarra, no qual Lenocínio poderá colocar o colchão que guarda debaixo da sua secretária onde tem dormido, pensando que os restantes membros da empresa desconhecem este facto e não infestaram dito colchão com os piores dos Chatos.
  • Proceder à Desinfestação de Baratas, Chatos, Piolhos e Cães Vadios.
  • Reposicionar mesas da Sala dos Computadores de modo a evitar as recorrentes manifestações físicas de desacordo.
  • Redefinir onde são guardadas as armas. 
  • Reforçar exterior do Beco com grades e mais cimento, de modo a evitar novas surpresas com sem-abrigos.
  • Definir estratégias de fuga ilustradas em mapas diversos em caso de fogo, polícia e romenos.
  • Reposicionar paragem de autocarro uns metros para a frente no passeio.
  • Oficializar e formalizar estratégias de intimidação a lojas do chinês das proximidades.

Iremos contratar alguns migrantes para a nossa demanda, a preços que lhes são literalmente incompreensíveis. Se o caro leitor quiser, por um preço moderado, estagiar connosco e exercitar as suas capacidades de liderança envie-nos um e-mail para cesareditoras@gmail.com, de forma a receber todos os detalhes.



César Editoras

sexta-feira, 1 de julho de 2016

A César Editoras no Estoril Political Forum 2016

Durante três dias consecutivos realizou-se no Hotel Palácio do Estoril o Estoril Political Forum, que assim se repete pela 24ª vez, salvo erro. Uma comitiva César-Editoriana deslocou-se ao recinto para assistir às demais conferências. Ao contrário daqueles que as realizaram, os nossos estimados membros pernoitaram numa Residencial perto do Hotel Palácio, não tendo contudo prescindido nunca dos luxos que tamanho edifício oferecia. Não só almoçámos e jantámos todas as vezes que pudemos nas suas salas sem ter pago para tal, já que o controlo era nenhum, como também, ao final do dia, dispusemos de forma jactante e opulenta da piscina que apenas aos utentes estava reservada. E quantas garrafas de vinho levámos!

O evento decorreu natural e pomposamente. O tema, "A Democracia e Os Seus Inimigos", descarada alusão a Popper, associado quase sempre à recente situação britânica foi discutido pelos mais ilustres convidados, embora apenas de passagem pelo mais requintado Timothy Garton Ash, que abordou, com o intuito de expor o seu novo trabalho, a liberdade de expressão.
A questão do Brexit não foi mal aproveitada e colocou-se em causa a questão da Democracia Directa, as consequências da saída do Reino Unido da UE e outros variados temas que nos dão conta de quão globalizado está o mundo nos dias de hoje.

Mas certo tema impulsionou, e de que maneira!, a escrita deste texto. A questão da Integração Europeia: Mais Integração ou Mais Flexibilidade? Maior Harmonização de Políticas de todo o género, um caminho para uma União Política, o Federalismo, ou um retrocesso e consequente menor centralização? Sabemos bem que enquanto Maior Integração não possibilita a flexibilidade, maior flexibilidade permite maior integração. Países de economias fortes, veja-se o independente Reino Unido ou a escondida Noruega, não aderem necessariamente a tudo aquilo a que países mais periféricos e a velocidade diferente aderiram, como o glorioso Portugal ou a estonteante Estónia!
A Flexibilidade é portanto a única opção correcta. Em torno da Maior Integração existe um certo idealismo que vai de encontro a tudo aquilo que se passou na Europa nos séculos passados. A ideia de um "agir comum" é mui linda, mas de forma clara os países europeus têm revelado a sua impossibilidade. A Flexibilidade não é mais do que um primeiro passo para a tal união forte que o federalismo exige. Uma acção tendo em conta as circunstâncias. O sentimento europeu não é mais do que algo incutido às pessoas, não criado por elas, isto é, algo que vai de cima para baixo e não de baixo para cima.
A crescente e gloriosa vaga de nacionalismos europeus, algo que de novo tem de pouco, parece ser ignorada pelos grandes federalistas que não vêm nelas um sinal, um sinal de que algo se passa. Tentar silenciá-los será como esfregar a areia freneticamente dentro da pálpebra por forma a retirá-la de lá.
O nacionalismo é um fenómeno exemplificado recorrentemente em solo europeu. Claro que, face à profunda crise financeira, à valente imigração, às ameaças terroristas que esta também facilita e à crise dos refugiados, os mesmos exaltam-se e dão novas razões à população para fazer a sua bandeira esvoaçar nas ruas.
Relativamente à questão fulcral do Projecto Europeu, "Aprofundar a Integração ou Retroceder, Redefini-la e Flexibilizá-la", a posição César Editoriana é clara.

Mas alguns pontos deveriam ser imediatamente esclarecidos e postos em prática de forma a tornar toda a vivência europeia mais fluída e europeia:

  1. Reenvio de Todos os Imigrantes Ilegais para o seu País de Origem.
  2. Redefinição e Uniformização da política de naturalização e eventual perda de nacionalidades. Recambiações, deportações.
  3. Aperto das Fronteiras do Espaço Schengen. 
  4. Exclusão do País da Bulgária da União Europeia. 
  5. Inclusão do país Ucraniano e Geórgia na União Europeia, sem olhar às consequências.
  6. Agravar e prolongar sanções à Federação Russa.
  7. Preparar Obuses Militares e iniciar segunda Operação Barbarossa.
  8. 3ª Guerra Mundial, mas apenas a Primeira Nuclear.

César Editoras