sábado, 28 de maio de 2016

Uma Questão Cultural

Há dias uma história chocou o 6 dos 7 biliões da população do mundo, dado que a Índia ficou de fora. Cerca de 33 homens sedaram uma rapariga de 16 anos e procederam à sua conspurcação. O facto é alarmante, mas torna-se ainda mais pasmante quando se pensa que 13 homens tiveram a coragem de seguir o vigésimo. Esta é das poucas situações de cariz extremamente grave nas quais o mau estado físico surpreendentemente supera o psicológico.
A rapariga ficou inutilizada, a todos os níveis portanto. Será um vegetal? Conseguirá ultrapassar esta situação e viver uma vida normal? E quanto tempo precisará para tal? Imagine-se, tem a moça agora 60 anos aos quais se juntaram umas tosses esquisitas. O médico, colocando a mão nas suas costas, pede-lhe um favor, "Diga 33".
Talvez não chegue aos 60 anos, por opção. Em África é costume, face à ultrajante quantidade e facilidade de ataques deste cariz, recorrer à mutilação. Ora, esta rapariga sofreu uma ironia do destino, dado que de facto foi estuprada como desta invasão resultaram, imaginamos, algumas mutilações, que com certeza irão afastar futuros ataques como em África se deseja, mas também futuros amantes, posto que a barreira do trauma, a mais alta, é a mais presente.
Há coisas que marcam uma pessoa das mais variadas formas. Quem a conhece, esta menina, saberá sempre do sucedido e quando esta procurar o conforto daqueles que lhe são chegados envergonhar-se-á sempre do facto de presente nas suas mentes estar o sucedido, mas este não ser, claro, verbalizado. E uma outra constatação torna-se claramente aterradora. É normal que qualquer pessoa prestes a entrar na idade adulta tenha em si todos os sonhos do mundo, incluindo aqueles que não considera fazíveis. Mas mesmo assim caminha para algo, não se sente na plenitude máxima das suas faculdades e sente que que o momento que definirá a sua vida se aproxima e chegará, mas não o conhece. Mas esta rapariga já o conheceu e, para seu enorme desgosto, foi o que foi, e em parte o que será, se alguma coisa for. O momento mais indelével da sua vida, aquele que se considera o mais preponderante na definição e evolução de uma pessoa é aquele que a destrói. Quanta a desgraça!
Mesmo que se torne uma figura relevante na defesa dos direitos das mulheres no Brasil, por exemplo, ou uma personagem de consciencialização dos abusos que serão futuramente cometidos, apenas o será e apenas irá ser ouvida porque quando ainda não era graúda foi vítima do mais iníquo crime.

E a pergunta coloca-se, apenas atendendo à reflexão e não ao debate: Será uma questão primitiva e cultural, na mente dos criminosos?
Provavelmente não, mas não é imediato. O facto de uma pergunta tão imediata não o ser é peculiar.


César Editoras

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Lançamento: Itens Obscuros: Uma Colecção de Inseguranças

O Álbum de André Lazarra, Itens Obscuros: Uma Colecção de Inseguranças, composto por músicas gravadas ao longo do último ano e meio que não entraram nos seus primeiros dois álbuns será lançado dia 28 de Maio de 2016. Note-se que a maior parte destas músicas foram gravadas no telemóvel de Lazarra, pois naquele momento da mais soberana inspiração não estava disponível qualquer outro meio de gravação.

A Setlist:

1. Agreste e Íngreme (3:33)
2. O Auxílio (2:19)
3. Escutai! (1:43)
4. Submetidos à Perfídia (1:38)
5. De Vento Em Popa (2:30)
6. A Cobra Rateira (1:01)
7. Despedida (1:32)
8. Maria de Jesus e Sua Casa Abandonada (1:40)
9. Uma Tarde de Veraneio (2:14)

Como sempre, será lançado via Bandcamp, sob o nome artístico do projecto, "Emerge-Me!".



Lenocínio Baptista, advogado estagiário

segunda-feira, 9 de maio de 2016

O Insecto Colado À Brilhante e Intensa Luz

Ninguém sabe que morre burro, pelo que até na morte ignorante é. A escolha é de cada um, se prefere o facilitismo ou escolhe a o caminho que progressivamente se torna mais leve e proveitoso, facultando àquele que o escolhe a recompensa gradual que o outro ignora.

Assim é com os filmes e com os livros. O filme é algo reduzido, que não oferece uma relação íntima entre o escritor, o verdadeiro responsável pela obra, e o leitor, aquele a quem esta é dirigida. Por esta razão existem prémios para "melhores adaptações", não querendo contudo isto dizer que são boas, fiéis ou justificadas. São apenas as melhores. O estilo de escrita, a profundidade das personagens e toda a rede complexa que preenche as páginas são apenas encontrados num livro e não são reduzíveis a uma hora e meia, existe um custo. Da mesma forma o livro é escrito e a beleza de certos momentos, ou locais é apenas realmente fabuloso quando descrito. Não só o filme usurpa a experiência que o autor esboçou, como também a sua brevidade (e erroneamente subentendida utilidade) é ilusória. O livro, quando da mais soberana qualidade, é lido a um ritmo alucinante e a imersão no enredo é tal que o o passar do tempo é totalmente esquecido. Essa é a experiência que o autor busca, a total e derradeira delícia, a gamela principal, a iguaria suprema.
Será o filme, quando adaptado claro, capaz de replicar o livro e maximizar a aventura do leitor? Não e, se consegue, o leitor deveria ler mais livros e ver menos filmes. Esta é a opinião César-Editoriana. Porquanto ao ver o filme não está em contacto com aquilo que no livro é retratado, apenas um resumo dos eventos principais, eventualmente sendo dado enfoque a certos aspectos que na televisão soam melhor do que no livro. Como dissemos previamente, nem tudo é transposto para o quadrado luminoso que nos ofusca a visão: A crítica social, através das mais descritivas páginas, o pensamento, dificilmente traduzido para o guião, as paisagens, os pormenores acentuados pelo autor da mais exígua mas significante acção, explorada de forma exaustiva.
Como elucidar alguém que propositadamente escolhe esbarrar contra uma parede? Nas palavras do senhor Putin: "Não é possível salvar alguém que se deseja afogar".

É verdade que na maioria das vezes aqueles que lêem o livro e depois visionam a película são fãs do Harry Potter ou de algo similarmente irrelevante para a situação. Não há bom lixo ou mau lixo, há escória e ponto final. Sinceramente, esqueça-mos essa vil mas pesada porção dos casos.
Recentemente uma galardoada série de nome "Guerra e Paz" recebeu valentes críticas, a nível de produção principalmente, dado que maior parte das pessoas que a viram e classificaram o provavelmente nunca hão lido a verdadeira obra. Talvez também não soubessem da existência do livro, de quem era (embora reconheçam o nome do famoso ex-compositor Tolstoy) ou talvez ainda hoje não tenham percebido que é uma adaptação. Que o sucesso não dê este último aspecto por garantido às populações do mundo!
Terão estas pessoas realmente beneficiado do facto de conhecerem agora superficialmente (via 8 episódios) o mais famoso clássico da literatura russa, composto por cerca de 1000 páginas, dependendo da edição? Não. Não só irão esquecer a história e lembrar-se vagamente das personagens, como também quando isso acontecer não irão com certeza querer pegar no valioso calhamaço de literatura que deveria ter sido a primeira escolha. "Já o li", dirão.

Assim a prova está dada, dada e fundamentada. O afogamento parece ser opcional a partir deste momento. "Ler é como numa piscina mergulhar, o primeiro passo é o único que custa dar". Na verdade as tecnologias dos recentes tempos têm vindo a entreter as pessoas de formas diversas, provocando nestas períodos de real atenção cada vez menores e atraindo-as com luzinhas brilhantes, tal como se atrai um veado para o capô do carro. Vidradas e consumidas são incapazes de se focar e entrar dentro de um livro para o ler definitivamente, um livro que talvez não sejam capazes de compreender de forma completa, tal é a vontade de terminar a página, de fazer outra coisa, de ver o que dá na Sic Mulher.
Deste modo uma opção se revela clara: Um livro que não requeira uma atenção tão redobrada, mas com um título apelativo através do qual eu consiga ter uma ideia do que fala, quando me esquecer dele e me perguntarem sobre o que falava o último livro que li.

A atenção é algo que cada cez com maior rapidez de perde. O Homem está habituado ao imediato e para ele vive. Nas artes as correntes dominantes apenas corroboram este argumento, a camada é mais espessa que o manto, algo contra-natural.

Assim sendo não há muito que possamos fazer. Uns lerão, outros irão ter acesso a algo cuja origem lhes é desconhecida e por vontade própria e porque no mundo os segredos resultam da preguiça, babar-se-ão vidrados até o ecrã luminoso parar de piscar. A nossa mensagem é clara e o simbolismo pertinente. Se não a compreendeu, talvez devesse ler uns quantos livros.


César Editoras