domingo, 18 de dezembro de 2016

Prémios César-Editorianos: Nomeados

Damos as boas vindas à 1ª Edição dos Prémios César-Editorianos, cujas categorias premeiam individualidades distintas ou eventos que se destacaram no passado ano de 2016. Os Prémios César-Editorianos são uma forma de relembrar e enaltecer aquilo e aqueles que nos encheram mais um ano de surpresas e avanços nas mais nobres áreas. Embora não conceda aos participantes qualquer recompensa material ou monetária, é o reconhecimento a dádiva que a César Editoras oferece às personalidades que não escolhem aceitá-la. Uma pessoa nem sempre cria algo porque tem em vista um conjunto de resultados, não, a obra deve ser realizada tão e somente por aquilo que ela vale e representa. Certas categorias irão premiar exactamente essa atitude, outras terão em conta resultados apenas e outras cingir-se-ão a eventos sobre os quais o indivíduo não tem mão, dos quais não se orgulha e que lhe hão trazido enorme infortunaria. De ano para ano as categorias aparecerão, manter-se-ão e desaparecerão também, dependendo sempre do material de que dispomos.
Olhemos para elas.

Prémio Mais Fascinante Calamidade: Premeia a mais tenebrosa calamidade aos olhos César-Editorianos.

  • O Vírus Zika
  • Os Jogos Olímpicos de 2016
  • A eleição de Donald Trump
  • Crise dos Mísseis Norte Coreanos
  • Canonização de Madre Teresa de Calcutá

Prémio Excelência Musical: Premeia o mais brilhante músico de todos os tempos.

  • Todos os músicos estão nomeados.

Prémio Mais Marcante Condenação: Premeia a sentença mais lustrosa do ano em questão. Têm-se em conta a importância do condenado e a dureza da pena.
  • Hisséne Habré
  • Oscar Pistorius
  • Otto Warmbier
  • Radovan Karadzic
  • Reinhold Hanning

Prémio Nobre Avanço Científico: Premeia a mais nobre causa, descoberta ou destreza técnica.
  • O Radiotelescópio de Guangzhou
  • Gothard Base Tunnel
  • Ondas Gravitacionais

Prémio Posição de Força: Premeia a inflexibilidade face a pressões exteriores injustas, na perseguição da manutenção da ordem e estabilidade política.
  • Alexandr Lukashenko
  • Bashar Al-Assad
  • Kim Jong-Un
  • Viktor Orbán
  • Vladimir Putin

As nomeações são hoje públicas. Qualquer contestação será imediatamente ignorada. Os resultados serão divulgados na última quinzena de Janeiro. 

César Editoras


quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Joaquim Orduras Prevê o Futuro

De novo Joaquim Orduras utiliza as suas alegadas capacidades místicas para colocar em dia aquilo que o ameaça. Sem mais demoras, oiçamo-lo:


"Haverá um dia, digo-o em observância das tendências iníquas que não posso descurar, em que Jesus Cristo regressará à Terra com o intuito de julgar os vivos e os mortos, traçando-lhes o seu destino através da justa mão que a espada enverga, e, nessa mesma ocasião do mais grandioso teor histórico, a sua presença será ignorada e tomada por um incómodo pelos habitantes desta redonda terra!

Cristo regressará e verá sepultados na maviosa e fértil terra os ideais bem intencionados que há milhares de anos nos legou. O ser humano, brioso e trágico, terá na sua mão uma oportunidade que será incapaz de compreender. A constante mais irrefutável que a história carregou consigo através dos anos não foi senão a malvadez, a propensão incontornável que o Homem tem para o mal, aquele traço fundamental que o coloca de novo no seu tão preterido lugar, o reino animal. Diria o leitor o progresso? Não só tamanha asserção é do cariz mais subjectivo, como também poderemos indagar as coisas às custas das quais o progresso foi atingido. Muitas vezes o progresso é o resultado benéfico das mais vis ocorrências, não das mais auspiciosas acções. E o que é o progresso senão uma condenação do passado? Não veria então o defensor desta teoria o passado como algo mau? Acreditando tão veementemente na necessidade e, no limite, na constância do progresso, como veria ele nessa óptica o presente? Ora, nada me parece mais claro do que a recorrente presença desta propensão para o mal, para tudo aquilo que este representa: a inveja, o escárnio, o desrespeito, o vitupério, a injúria física, a maledicência.
Terá o Homem alguma vez sido bom? Será hoje, no século dos avanços tecnológicos e culturais, capaz de se tomar como bom? Ou preferirá a posição amena e cuidar que simplesmente 'não é mau'? Qual o critério de um Homem de bem? É com certeza mas fácil tratar das ofensas humanas, rotulá-las. Existem mecanismos que dispõe dessa autoridade. O mal é um alvo mais fácil, mais facilmente identificável. O Bem, por sua vez, é receptor das mais flagrantes manifestações do politicamente correcto e do pacifismo, pelo que as várias concepções de Bem são geralmente bastante bem aceites, com especial aceitação nos anos que compõe grande parte deste milénio novo. O mal, em suma, é o mal e as diferentes concepções de mal, dada a natureza da variável, são quase sempre empacotadas no mesmo recipiente, com graus de iniquidade superiores ou inferiores.
Nos tempos recentes vemos fenómenos vários de pura malvadez, voluntária ou involuntária, mas a actualidade deixo aos peritos.

Como dizia, o filho de Deus acabara de descer à Terra quebrada. Sem vontade de gerar especulações imponho ao profeta um agir e pensar humano, agora que visita a Terra, algo que presumivelmente faz sempre a custo. Que terá indagado ele? 'Como terá sido isto possível?', 'Porque razão agem contra os meus ensinamentos?', 'O que faz aquele esófago acolá?', 'Terei sido abandonado pelos meus filhos?'. Ah! A imaculada beleza do depósito da culpa! Distribua-se o livre arbítrio por entre os cidadãos, esse deverá escusar maior labuta! Dai-lhes a oportunidade de errar e sofrer, de seguir o meu desígnio da forma que eles considerarem mais formosa, enquanto eu me reclino neste belo trono da eternidade, bebendo um suave aperitivo e esvaziando o meu estômago após o décimo, aproveitando também para expelir algumas das competências que me foram reservadas. Assim, aquando do meu regresso, tal e qual aluno preguiçoso num trabalho de grupo, retorno com renovada mensagem, "então?", ao que a mente que algo ainda capta, isto é, não mentecapta, redargue "Não deverás tu, oh criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, detentor dos mais inverosímeis, infindáveis poderes e mais generosa inclinação efectuar a pergunta de forma inversa?"

Cristo incrédulo? Talvez não, a sua mais útil capacidade é a infinita sapiência. De facto, é capaz de ser a única que realmente usa. Revestindo a sua cara com as expressões que a destruição lhe incutia fingiu ignorar, numa primeira ocasião, a pergunta que lhe havia sido arremessada. "Terá ele compreendido a questão?" indagaram-se aqueles que o rodeavam. Muitos, afastados, recusavam reconhecê-lo, achando-o apenas um outro maluco mais convincente. Aos seus pés caiu uma jovem moça, nos seus braços um pedaço de carne ensanguentado com claros contornos humanos. Nada mais move a opinião pública que o sofrimentos dos inocentes, em particular das crianças inocentes! E com quanta tristeza a pobre madre comunicou ao seu suserano o desastre que acontecera à pequena cria, que agora com dificuldade jazia nos braços de sua mãe, tal era o sofrimento de uma e a desfiguração de outra. Tomando na cara a expressão de determinação com que havia aterrado, desviou politicamente a tentativa de constrangimento que entendeu como um desafio à sua autoridade em direcção aos temas que o preocupavam naquele momento. "Olhai, meus filhos, olhai para o que o Anti Cristo vos impingiu! Vede as terras cremadas, o súbdito curvado e os céus turvos com a ira de meu pai! Em sede da vitória do bem necessitamos da ajuda de todo aquele que me quiser acompanhar em direcção aos céus, onde se sentará à direita do nosso pai. Lutemos contra o Anti Cristo, detenhamos a sua ira irascível!". Assim imagino a sua primeira grande fala, divergindo das questões que realmente lhe são colocadas, referindo múltiplas vezes os evangelhos, revelando grande conhecimento de causa e citando inúmeros livros não lidos dos quais ninguém alguma vez ouviu falar. Em suma, uma nova missa. Mais uma. Não se submete às capacidades criativas do ser Humano a justificação que será necessariamente dada por Jesus Cristo assim que este se vir na obrigação de regressar ao sítio que devastou com a sua hipocrisia e atitude passiva. Envoltos em temor, contudo e por mera pena benevolente concedendo ao verdadeiro mendigo intelectual uma oportunidade de salvação, perguntaram-lhe aqueles que o ouviam a custo: "Não terás sido tu, oh Jesus de Nazaré, o responsável por esta manha? Quem mais, senão tu, poderia tê-la evitado? Será que, perante a tua inactividade e o teu ócio celestial, a existência do éter maligno te beneficia enquanto bode expiatório, em função da tua incompetência?". "O Anti Cristo adianta-se, sobre o reino infinito dos Céus abater-se-á! Agidem-vos enquanto podeis! Vede com vossos próp..." Antes do regresso do reino infinito da retórica vazia uma vergastada na sua bochecha esquerda impediu a sílaba seguinte de ser proferida. Sobre ele se abateram as criaturas que ele criara, o verdadeiro Anti Cristo, o império do mal, o seu antagonista, o Ser Humano. Aqueles que nele não acreditaram tentavam separá-lo da fúria semeada havia milénios sem resultados significativos. A sua manta ganhava as primeiras pinceladas. A sua retórica completa era abafada pelo recurso mínimo à interjeição daqueles que das palavras haviam passado às acções. De onde vem afinal essa palavra sagrada? De onde?! "Eu forneço-vos todo o vinho que quiserdes!", gritava em desespero. "Rosé, Branco, Tinto", igualmente sem sucesso. Quando a tareia se deu por terminada consensualmente a consciência insana do prostrado foi arrastada até ao cume da mais alta montanha. "Pai, porque me abandonaste? Deus, meu Deus, porque me desamparaste?" Mas sua boca alargada foi prontamente fechada por um laivo de seriedade gesticulativa ameaçadora. Debaixo de uma árvore o colocaram, permitindo um breve descanso. Em redor do seu pescoço delinearam uma linha precisa. Levantaram-no e permitiram que algo final proferisse. Ninguém prestou elevada atenção e quando nele pegaram provavelmente o seu discurso dissuasor ou pacificador não havia sido ainda concluído. Da planície fumegante um grupo de indivíduos apátridas lobrigou no alto de uma suja colina um outro conglomerado deitando mão a um irrequieto personagem. Este era agora seguido em direcção à árvore solitária por dois indivíduos apenas. Quando se voltaram e o deixaram em paz a sua inquietação e movimento aumentaram exponencialmente, antes de cessarem por completo, dando lugar a um desconfortante movimento pendular. Um cheiro curioso a figos encheu a planície e a atmosfera, cobrindo os fogos que se extinguiam e dando novo alento a uma raça debilitada que, sabendo ou não, se livrara do maior fardo alguma vez conseguido pela criação. Os conglomerados, cada um, seguiram a sua direcção.

Joaquim Orduras, Poeta"


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

O Nome Brenda

Partilhamos uma opinião comum e vincada de todos os membros da nossa humilde Instituição. Maior conflito surgiu quando redigimos o seguinte texto, aquele que melhor traduz a nossa mensagem:


"Brenda, Brenda. O Nome Brenda. Com a pronúncia de cada sílaba parece que um tijolo se nos estilhaça pelos dentes. A culpa não é sua, nem dos seus pais. A culpa é do costume e da lei, que sucessivamente falharam em tornar esta escolha ilegal. Outrora havemos determinado que o nome 'Mauro' é o mais ultrajante da língua portuguesa, feminino ou masculino. Certamente Brenda seguir-se-á. A sua abjecção caminha por tão sinuosos trilhos que enquanto desenvolvemos esta ideia o sistema operativo da nossa maquinaria não hesita em sublinhar a vermelho tão odiosas sílabas. O casamento entre Brenda e Mauro é a receita para o aborto. Fossem irmãos, a receita para o incesto. Fossem progenitor e cria, a receita para o incesto seguido de parricídio. A junção de ambos estes nomes num âmbito familiar atenta contra as mais basilares leis naturais, sobre as quais o Homem e a moral que este detém foram erigidos. 
Contudo o nome Brenda, que tanto nos custa pronunciar quanto escrever, não se comporta como uma doença física, pelo que não pode ser erradicada ou contida. As suas semelhanças ordenam-se às maladias do foro psicológico e, se assim nos for permitido colocar, cultural. O contágio ocorre por omissão, o seu sujeito a pessoa, que ao exercer uma autoridade excessiva não tem em conta o crime hediondo que perpetra. Esta vontade de facultar ao nascituro um fardo que durante várias estações comportará apenas poderá ser o efeito da mais tremenda ignorância. Talvez, em detrimento de uma Bíblia, que apenas versa sobre esperanças ocas abstractas, se devesse conceder a cada família um livro de nomes permitidos, que versasse sobre itens concretos e de aplicação visível. Se Deus cria o Homem e este chama o seu filho Mauro ou Brenda, será que a altura chegou de substituir tamanha autoridade por um passo lógico, um novo livro, que impeça o Homem de tomar acções auto-destrutivas? Porquanto estes nomes são factualmente tenebrosos e repulsivos. Um Deus sumamente bom não permitiria que os seus súbditos tomassem nomes desta laia por algo que não uma ofensa directa, muito menos um elogio. Cabe ao iluminado atravessar-se horizontalmente na estrada e descarrilar o vagão divino, alterando a sua lei e seus dogmas. Comecemos pelas tradições que este nos inculca erradamente. Comecemos pela total e inequívoca ilegalização dos nomes Mauro e Brenda".



César Editoras


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

6º Aniversário da César Editoras

Hoje, dia 25 de Novembro de 2016 a César Editoras celebra o seu 6º aniversário. A data não assinala, contudo, o dia exacto da fundação desta gloriosa instituição, pois foi estabelecida por convenção, uma história simples e importante que todos os anos recordamos: Havendo sido criada, com certeza, no mês de Novembro de 2010, quando a César Editoras decidiu iniciar a tradição de celebrar as sua anualidade desconhecia o dia em que o deveria fazer. Por convenção e alguma conveniência decidimos aglutinar o nosso aniversário artificial com uma data bastante concreta e relevante que muito nos toca, o dia 25 de Novembro de 2016, a data da morte de um dos nossos adorados ídolos, Nick Drake, falecido no ano de 1974. Talvez parecesse ser correcto incluir nesta divagação os importantes passos que a Democracia portuguesa deu nesta mesma data. Mas aquilo que parece correcto, geralmente a César Editoras não o faz. Nick Drake é um símbolo da mais pura originalidade e honestidade intelectual. O seu trabalho incontornável ao serviço do Folk foi amplamente ignorado aquando da sua composição e distribuição, mais tarde conhecendo um "revival" merecido às mãos da justiça daqueles que detectaram a sua genialidade bruta. Embora tenha escolhido cessar as suas próprias funções vitais, possivelmente devido ao fracasso da sua obra durante o seu tempo de vida, a sua presença mantém-se viva, tanto pelo papel que desempenha na vida daqueles sortudos que o conhecem, tanto pela influência invasiva que, ao longo destes últimos 42 anos, tem exercido sobre os demais músicos e eclécticos artistas. Qual a lição a retirar dos ensinamentos involuntários deste jovem músico? A César Editoras, como sabeis certamente, não tem um desígnio particularmente direccionado ao lucro ou à satisfação de um grupo de pessoas, nem sequer à contribuição para uma Sociedade mais justa, equilibrada e moralmente tolerante. Não, muitas são as vezes em que a acção deliberada da nossa empresa vai de encontro a estas ideias sem qualquer consideração. Não só isto, como também a sua preocupação para consigo mesma e não para com os clientes que tem, mas aqueles que escolhe resultam em constantes situações de privação e depravação generalizadas. O sucesso raramente está à porta e alguns se indagam como tem a César Editoras sobrevivido com um registo financeiro e criminal tão consistente. Talvez a nossa mensagem não deva ser entendida ou aceite no nosso tempo de vida, mas sim numa altura diferente em que a nossa acção vigore de forma mais fluída e possa convergir em termos de valores com a Sociedade do seu tempo. Essa é a nossa esperança, mas uma daquelas que sabemos bem como será aceite hoje e como deverá ser aceite amanhã. O senhor Nick Drake estava bem ciente das suas qualidades e talvez tenha considerado provável a situação que acabou por merecidamente acontecer. Nós estamos conscientes das nossas práticas e da dúbia moral que estas acarretam. Talvez as esperanças sejam diferentes. Contudo são esperanças e, como dizem, a esperança é a última a morrer. Talvez não seja assim, se esta demonstrar tendências suicidas.

Muitos Parabéns César Editoras, que mais vezes celebremos esta bela ocasião e retomemos esta lenga-lenga Nick-Drakiana com fins comparativos!,


César Editoras

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Estatísticas 2016/11/10


Há algum tempo que não abordávamos as nossas preciosas estatísticas, necessárias à análise da expansão César-Editoriana pelo mundo.

Em relação à coluna esquerdina nada nos surpreende. Quem usará o Firefox para obter acesso aos nossos dados? Tal é, agora que melhor exemplo não arranjamos, o acto legal mais próximo do crime que nos vem à cabeça. Como seria de esperar, nem todos têm recursos financeiros suficientes para prodigalizar inconsequentemente num Macintosh que mal sabem usar, essa jactante escolha assentando na necessidade exibicionista que a recente entrada na faculdade lhe proporcionou. Vade Retro!

Adiante. Chegamos ao âmago da questão. De onde são oriundas as nossas visitas?

De forma surpreendente e imprevisível recebemos nestes últimos tempos uma afluência fabulosa de terras francesas. Não sabemos quem vós sois, se sois portugueses ou de nacionalidade estrangeira, mas podemos prever e talvez o façamos: Sois portugueses. Agradecemos a vossa consideração. Aproveitamos para desvendar que há coisa de um ano André Lazarra, que entretanto se retractou, considerou os emigrantes portugueses merecedores de perda de nacionalidade por traição. Nas palavras do nosso Consultor Linguístico "não existe qualquer razão que consiga levar um português a ausentar-se quase permanentemente da sua terra natal. Cá tudo temos, e por tal teremos de lutar". Entretanto Lazarra já tomou como aceitável a emigração para alguns países, como a Rússia, Bielorrússia, a Alemanha, o Vietname e a República Popular da Coreia do Norte.
Em segundo lugar Portugal apresenta-se como fiel acompanhante. Sobre esta posição cremos não existirem obrigações explicativas.
Em terceiro lugar apresenta-se um dos mais gloriosos países alguma vez desenhados. O povo alemão teve as suas divisões ao longo dos tempos mas manteve-se sempre intrinsecamente alemão e as suas características, que recentemente negativamente têm evoluído fruto da globalização, convergem com alguns dos valores que a César Editoras pretende transmitir: força, estabilidade, traços culturais marcantes e a ocasional opressão de opiniões redutoras. A comparência dos povos alemães tem sido regular nos nossos fóruns monologais.
Como já é hábito, é normal que num dos maiores países do mundo, com maior presença na internet e cultura de redes sociais a ocasional visita acidental aconteça. Com os recentes acontecimentos nos EUA apenas desejamos uma total dissociação entre empresa e "América". Iremos ignorar qualquer tentativa de aproximação, e esta é intolerável!

Fechando a abordagem à estatística, concluímos com uma nota fundamental, a inexistência de visitantes das terras eslavas. Em tempos estes fundamentais parceiros culturais ofereceram-nos belas visitas da Ucrânia, da Rússia! Hoje manifestamos a nossa desilusão, após tantos elogios terem sido proferidos pelas nossas gargantas. Talvez este seja o resultado de vários elogios recentes à Bielorrússia, nãos sabemos.


Lenocínio Baptista, Advogado Estagiário

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A Criança no Passe-Partout

Era um dia de semana solarengo quando Lenocínio entrou atrasado e de rompante pela porta frontal do Beco do Julião, alertando todos para um quadrado (60x60) que nas mãos trazia. "Está pronto!", gritou. Desinteressados, ficámos em absoluto silêncio nas salas interiores, tentando convencer Lenocínio a faltar ao seu dever para com a César Editoras. Contudo o advogado estagiário optou por, no meio da sua emoção, procurar os seus colegas nas salas onde estes se encontravam sossegados. "Está pronto!", repetiu, "A minha mais formosa fotografia de infância imortaliza-se!" e, virando-o, apontou para nós o Passe-Partout onde uma criança de cerca de quatro anos sentada olhava inquisitivamente sobre o seu ombro em direcção à lente, vestida com malhas cor-de-vinho e calções beges axadrezados, próxima a uma lareira em brasa rodeada por uma alcatifa encarnada.
Joaquim Orduras, que nesse dia nos fazia uma irrelevante e pouco pronunciada companhia, levantou-se e acendeu uma cigarrilha junto da janela.
Após um momento de calmaria, no qual o olhar de Lenocínio percorria atentamente os olhares dos seus colegas fixados na figura geométrica, André Lazarra decidiu manifestar-se. "Essa criança está morta" proferiu secamente antes de retomar o trabalho sobre a sua secretária. "Que hás dito?... Sou eu, Lenocínio, aquando do meu quinto aniversário! Não poderia portanto estar morta esta criança que vedes". Lazarra iniciou uma extensa mas concisa linha de questionamento: "Lembras-te, Lenocínio, desse momento específico que o papel retrata?", "Não", "Tens alguma memória viva dos tempos dos teus quatro, cinco, seis anos?", 'não' de novo, "As tuas ideias são as mesmas, as tuas capacidades iguais e as vontades semelhantes àquelas desta criança?". Certamente que não. Lazarra concluiu. "A Criança está morta, foi espezinhada pelo tempo, como um dia todos seremos, e pela vontade constante do ser humano de se melhorar e transcender a sua condição mísera, ainda que o tenha feito de forma inconsciente, tal e qual um instinto, ou natureza. Olhando para o teu pai, que presumo tenha tirado essa fotografia embora nem tu o saibas, ó Baptista, indagas-te o que segura ele nas mãos e depois porque razão não és tu o seu detentor. A Criança toma rapidamente conhecimento do seu estatuto e depressa deseja efectivamente ser adulta, ocupar um cargo que não é ainda o seu, uma atitude que se prolonga ainda quando este desejo e a sua impossibilidade são conscientemente aceites pelo sujeito. Essa criança, ó Lenocínio, jaz no túmulo que é essa fotografia. Tão deitada está!, tão corroborada está a sua condição (Lazarra levanta-se da secretária, olha Lenocínio nos olhos e gesticula com o indicador) que já nem o seu relevo se denota no papel que a imortaliza!, salvo seja".
Sem palavras Lenocínio retraiu-se, olhando o chão de madeira esburacado. No escritório ouviu-se a porta a bater com um estrondo, um baque que não só almejou abanar as vigas do edifício como também as da empresa.
Quando o dia de trabalho foi dado por terminado, eram duas horas da tarde, encontrámos a besta quadrada de Lenocínio enterrada num contentor de obras, já poeirento. Retirámo-lo do entulho e o nosso Consultor Linguístico decidiu pendurá-lo na parede do escritório durante um tempo indeterminado, não com o intuito de pedir desculpa a Lenocínio, mas de revelar também um interesse no lado sentimental da vida, sempre ligado ao seu lado negro, assim confortando Lenocínio, mas não apagando as palavras permanentes que lhe incutiu.
Lenocínio, compreensivelmente, ainda não regressou ao Beco do Julião. Não oficialmente, posto que, de quando em vez, pela calada para lá leva meninas de reduzida reputação e debaixo de uma mesa ou outra pernoita.


César Editoras

domingo, 30 de outubro de 2016

A Institucionalização

Após uma paragem não prevista de cerca de um mês inteiro, isto é, 1/12 de um ano, regressamos com uma bonita composição de André Lazarra sobre "O Acto de Institucionalizar", para a famosa revista de Alpedrinha, Instituições. 


"
A Institucionalização

A Institucionalização é o acto de institucionalizar, inscrever algo até à data informal nos quadros de uma Instituição. É a instituição da Institucionalização que me traz aqui hoje, a Alpedrinha, terra de valentes magos e vis bagos. Atrozes actos de instituições de novas ordens foram outrora no passado cometidos, após vagas consecutivas de omissão ou repressão. Contudo a institucionalização apenas se revela proveitosa, somente escapa o vício, se se conformar com uma valerosa Instituição, assente nos mais essenciais valores e ideais, porquanto esses mesmos serão fonte da sua continuidade. A instituição da Institucionalização é essencialmente um reconhecimento da necessidade de institucionalizar algo. Ora, aquilo que secretivamente é mantido, aquela matéria, física ou psicológica, que escapa sem liberdade de escolha o olhar disperso do público em geral será sempre alvo de controvérsia aquando da sua institucionalização, aquando da sua oficialização. Não interessa. O que nos é relevante é a matéria e a sua transposição para uma estrutura acessível aos cidadãos de uma criativa sociedade. Há tempos ouvira-se nas notícias um urdir nocivo e pérfido vindo de um estável e poderoso governo mundial. Na situação que detalho o problema estava já institucionalizado, o vício era relativo ao procedimento, que por sua vez não era permitido tornar-se público. Quando um indivíduo se deparou com o defeito e com o dilema de o tornar público o vício deu-se a conhecer ao mundo. O vício institucionalizado foi libertado por uma anomalia na instituição. O segredo, que bastante perto do público se encontrava mas apenas se o soube quando revelado, levantou perturbadoras questões relativas à Instituição e à necessidade de se reformar estes processos, estes valores, valores que, como previamente estabelecido, terão necessariamente de ser honrosos por forma a permitir não só a continuidade da estrutura como também a manutenção da confiança nesta. Sugiro uma reforma.
Assim proponho que o leitor reflicta, na medida em que achar possível e adequada, sobre os demais problemas da Institucionalização, posto que tal fenómeno é análogo às mais variadas vivências quotidianas. Creio ter deixado este artigo inacabado de modo a permitir e estimular este raciocínio. Também o faço pois acredito vincadamente que poderia encher trezentas páginas com belas e bem encadeadas palavras sobre o tema da Institucionalização, da Instituição da mesma e das Instituições que seriam receptáculo de hipotéticas vias cognitivas. Pensemos, por fim e como meio de terminar esta conversa (este texto, leia-se, é uma conversa no seu mais profundo âmago), nas reformas que prometemos diária, mensal e anualmente concretizar, incidentes nos mais relevantes ou exíguos âmbitos das nossas incertas vidas e nos resultados que pretendemos atingir. E, imediatamente de seguida, quão ridículos pareceremos?

                                                                                                                André Lazarra"



Lenocínio Baptista, Advogado Estagiário


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Sigamos o Exemplo da Bielorússia

Quando alguém nos diz que estamos errados e ao mesmo tempo nos sentimos fragilizados, é normal que para dentro de nós olhemos e nos fechemos em relação ao mundo. Tal fenómeno é cada vez mais comum, agora que as tecnologias permitem às pessoas viver vidas novas que em parte não são suas.
Das muitas vítimas do mais gratuito e inconsequente ataque crítico não se exclui a César Editoras. Seria inútil listar os vários erros que frequentemente nos são apontados, tão inútil quanto apontá-los, pois o nosso comportamento e ideologia assentam nas mais sólidas e tortas vigas de ferro.

Alexander Lukaschenko, actual legítimo Presidente bielorrusso, é muitas vezes referido como um mau exemplo, um homem que vive no passado, de políticas soviéticas e autoritárias. Não faz mal, todos nós possuímos defeitos e este ataque a um modelo estável reflecte as falhas dos analistas.
Lukaschenko é, de igual modo, uma figura que pouco aparece em capas de jornais, embora mantenha uma relação próxima oscilante com o governo russo, cuja figura principal é fonte de muita especulação e debate.
Esta opção de se virar para si e manter contactos parcos com vários países do globo é uma forma de evitar mais ataques. Ninguém ouve falar da Bielorrússia, se é que alguém de facto a conhece. O Homem permanece quieto e sossegado, tratando dos seus assuntos e ficando satisfeito com o desvio de atenções em direcção ao seu vizinho.
Assim procede também a César Editoras. É criticada, retrai-se para o seu canto e faz as coisas pela calada. Ninguém sabe o que se passa, poucos conhecem-na e alguns criticam-na. Mas as críticas, tal com aquelas dirigidas ao legítimo Presidente da Bielorrússia, têm um efeito exíguo e terminam no jarro da indiferença.

Esta forma de combater a repressão não significa que a repressão cessará. Não! Significa que esta deixará de ter o efeito desejado!, até ao dia, claro. Demasiada ambição poderá resultar numa emersão que sairá cara àquele que agora se encontra debaixo de fogo. Deste modo mais moderado as coisas vão andando, calma e quase secretivamente. Enquanto o mundo se continuar a preocupar com a morte de chimpanzés, ursos polares e gatos não-pardos, a César Editoras avança sem causar grande alarido.
Não podemos deixar de elogiar a política firme e eficaz do Presidente Lukaschenko, que não só mantém a ordem e o progresso num país que, de outra forma, seria provavelmente imediatamente capturado pela Rússia ou democraticamente fragmentado, como também o faz sem inquietação, abafando as críticas interinas com o seu punho de ferro e adoptando uma atitude geralmente despreocupada em relação às críticas exógenas, isto é, quando estas não são oriundas de Estados dignos ou merecedoras de consideração.

Longa vida, Bielorrússia!


André Lazarra, Consultor Linguístico



quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Prémios César-Editorianos 2016

Na César Editoras muitas são as vezes em que alegamos identificar-nos com isto ou desprezar vigorosamente aquilo. Nunca, no entanto, conseguimos  realizar qualquer tipo de homenagem às entidades que idolatramos ou repudiamos. Deste modo decidimos criar os Prémios César-Editorianos, um breve e questionável momento de reconhecimento e consideração.
Compreendemos perfeitamente o que, para uns, poderá significar ser reconhecido pela César Editoras. Poderá ser simplesmente irrelevante e ridículo, ou destrutivamente prejudicial. A empresa admite ser, ainda que de forma incompreensível, fonte de enorme repulsa e um completo exemplo da degradação moral e comportamental da qual se deverá constantemente manter uma segura distância.

Posto isto, consideramos que apenas uma empresa "de valores dúbios e corrosivos" se daria ao trabalho de tomar em consideração aqueles que dela se querem afastar. Prosseguiremos assim com as nossas intenções.
Em último lugar falamos daqueles que por nós não veriam como acção vituperosa ser reconhecidos. Esses terão a sua talha de satisfação.

Em relação ao prémio salientamos as duas únicas e mais importantes datas:

  • Anúncio de Categorias e Nomeados - Dezembro de 2016
  • Anúncio dos Vencedores - Janeiro de 2017

Devemos alertar os nomeados e, especialmente, os vencedores que a cerimónia de entrega dos prémios é algo de supérfluo, dado que materialmente estes não existem e que grande parte dos vencedores, pelas razões detalhadas, não se comprometeriam a aparecer no evento. Da mesma forma, seguindo à risca a política financeira que a empresa orgulhosamente revelou nos recentes anos, qualquer forma de compensação financeira foi, desde o início, imediatamente afastada ao som das mais valentes risadas.
No entanto, se tiver ganho algo e desejar ser materialmente reconhecido, envie um e-mail à César Editoras (cesareditoras@gmail.com) com os detalhes da sua morada (e, opcionalmente, códigos de vários cartões de crédito) por forma a receber uma taça de plástico da loja dos trezentos com um post-it colado comportando os detalhes da sua valiosa conquista. 

Boa sorte,

André Lazarra, Consultor Linguístico



terça-feira, 27 de setembro de 2016

O Temerário

Da eloquência servia-se Loubeluane, diminuto camponês das vastas pastagens que compõem o norte português. Na sua perdida terra à qual o correio não chegava era Loubeluane considerado o mais bravo de todo o campesinato. Os seus feitos eram ouvidos com atenção e contados com minúcia. Contudo, fruto da vertente reconstrutiva da nossa memória, passados meses da sua estreia a verdadeira versão dos factos, expressos pelo bravo plebeu, era distorcida pelos vários pontos que se acrescentam aos contos. Ainda assim, muitas eram as vezes em que estas alterações tornavam a história gradualmente mais pasmante e soberba. Várias eram as discussões motivadas pelas diferentes versões da história que os aldeões da região iam conhecendo, certos da sua versão, incrédulos face ao feito impossível que o opositor avançava. Com efeito, já nenhuma alma questionava a veracidade do heroísmo, apenas os meios que a ele conduziram.

Geralmente ao lusco-fusco, sentado no fofo feno depositado no atrelado de uma carroça, Loubeluane iniciava os seus discursos, gesticulando erraticamente, ora atingindo violentos frenesins, ora incutindo o medo através de longos silêncios. Inquestionável efectivamente era a sua oratória, capaz de mover o mais absorto dos ébrios. A oralidade do curto homem estava de tal forma desenvolvida que muitos eram os homens de razão que, ainda discordando das conquistas gloriosas que Loubeluane alegava ter conseguido, o visitavam, a ele e à terra, para numa retórica emotiva quebrarem as suas rotinas. Ao final do dia a fabulosa reunião semanal de roda da carroça era aguardada ansiosamente pela pouca população das terras que rodeavam o centro cultural daquele determinado e esquecido canto do reino.

No dia em questão Loubeluane havia deixado a sua audiência na proximidade da carroça durante um tempo talvez excessivo. De dentro cabana de onde sairia, antes de caminhar cerca de dez metros e subir para cima do feno, ouvia-se uma conversa acesa e amarga, da qual emergiam de quando em vez alguns sinais de briga. As nuvens cobriam o céu em pequena escala, mas o medo da precipitação inquietava a multidão que a cada novo vislumbre da sua janela por parte de Loubeluane parecia aumentar para o dobro. A carroça onde se desenrolaria o tenebroso espectáculo, sobre a qual as mais recentes façanhas do herói se ouviriam, pertencia a um camponês que se abnegara e lá a deixara, no centro da vila, receoso que o temperamento bipolar de Loubeluane (algo que tornava a sua prestação gloriosa) embirrasse com este "acto de desrespeito" e se recusasse a regressar às actuações. Hoje, como resultado da demora, o dono do veículo ameaçava removê-lo com frequentes gritos, testando o carácter do bravo camponês.
Pouco tempo depois Loubeluane saiu finalmente da sua cabana, empunhando uma espada e com ela abrindo caminho por entre as pessoas. Seguido de dois aios, que sua capa simbolicamente suportavam de forma a impedir o contacto com a lama, símbolo daquilo que é porcamente comum, Loubeluane guardou a arma no coldre e subiu para cima do seco feno, subsequentemente adoptando uma postura imponente e contemplativa, assim distanciando-se do povo, cuja missão era a admiração incondicional. Alto e espadaúdo sobressaía do meio da pequena multidão, que na expectativa um cerimonioso silêncio criara. Visto de longe, da planície cultivada que ladeia a aldeia a sul, o espectáculo nada menos que formidável seria. As silhuetas magníficas, os vultos, os sons que se aproveitavam do silêncio iniciado, o sol escondendo-se por detrás dos íngremes montes encostados aos amontoados de pedra humanamente erguida. Tais condições nunca antes haviam sido encontradas, não pelos mercadores, não pelos estrangeiros povos nómadas de etnia mesclada, não pelos próprios habitantes da povoação descrita. Loubeluane compreendeu-o, do alto do seu posto vigilante.
Com um movimento rápido do seu braço esquerdo estendeu o braço fazendo estremecer a sua capa escura. Iniciou um discurso ardente e fulgurante, incisivo e inquietante. Loubeluane, com as suas palavras bem pronunciadas e voz estridente e profunda incutia nas pessoas os receios com que não desejavam viver, a elas falando dos demais perigos que haviam chegado a outras regiões, e que para esta caminhavam! "Uhs" se faziam sentir e ouvir no seio dos homens, mulheres e crianças que, por instinto, se aproximavam gradualmente mais da carroça. As espinhas estremeciam ao tomar conhecimento de mortes, lobos e homens corruptos do reino, que limpariam os campos e crimes hediondos estariam dispostos a cometer! Ora, grande parte dos terrores relatados pelo corajoso camponês, numa outra ocasião semelhante a esta, já haviam sido motivo de uma formosa e inflamada oratória. Nessas ocasiões, nas quais evocava os seus actos corajosos e minuciosamente descrevia os métodos através dos quais os mais agressivos perigos havia afastado, Loubeluane era aplaudido e aclamado como um imperador. Assim que terminava a sua narrativa efectuava uma pausa sucinta, fitava os seus pés como se diante de um altar se encontrasse, avançava a perna direita e, de punhos na cintura, peito e queixo em riste e olhar fixado no horizonte, permitia que uma triunfal manifestação de apreço e incontrolável balbúrdia em sua roda se desenrolasse. A carroça, embora pesada oscilava, mas o seu estável centro de gravidade impedia o tombo.
Neste lusco-fusco glorioso, onde as cores facilmente condicionam o estado de espírito daqueles que as vislumbram, Loubeluane encontrava as condições perfeitas para impor à história desta sua terra o seu dia mais marcante e incontornável. "Nunca será apagado da memória das futuras gerações!" pensou.
O seu discurso corria como a cristalina água num belo ribeiro. A atenção da audiência por ferros presa, a sua cara em constantes esgares face à brilhante e imprevisível oralidade do locutor. Loubeluane relatava uma história sua de há dois meses, que havia guardado para uma ocasião especial, o dia de então. Era um belo conto de um resgate de uma donzela, que nas mãos de um grupo criminoso organizado havia caído, grupo criminoso esse com fama de implacabilidade e invencibilidade. Loubeluane aproximara-se de uma delegação destes criminosos, constituída por quatro bandidos tenebrosos. Loubeluane aproximava-se vagarosamente e escondia-se na densa vegetação. Cada palavra proferida aumentava o estado de agitação do aglomerado de pessoas. Foi nesse momento que os fora-da-lei encontraram Loubeluane, empoleirado numa carroça e rodeado de pessoas. Um grupo de quatro homens apropriadamente armados apareceram por detrás da roda de pessoas e gritaram "Quem é o responsável por esta imediação?".
"São Saltimbancos!" exclamou alguém notoriamente assustado. Mas face a uma ameaça clara não havia quem não soubesse a identidade do responsável e, em massa, dedos foram apontados em silêncio para o homem no topo da carroça, que um ar de espanto rapidamente substituiu por um de enorme confiança, cerrando os olhos e franzindo a testa. "Quem sois?", perguntou Loubeluane recompondo-se. "Descei dessa carroça e dizei aos teus súbditos que se coloquem ali ao fundo, caso não quereis serdes esquartejados como cães vadios". Com quanta calma haviam sido pronunciadas aquelas palavras, vindas do mais pérfido inferno! "Não" retorquiu o responsável, cuja resposta com poucos e sucintos gritos e aplausos de apoio foi recebida. "Como quizerdes, iremos por conseguinte arrasar tu'terra pelo chão, conspurcar tus mulheres e separar tu cabeça de tu corpo!". "Tentai e sofrei as consequências!". "Considerarde-vos a astúcia deste reino! Por Deus mi palavra te ofereço em como cumprirei até ao último requisito as condições meritoriamente aqui expostas!" "Uma questão de honra, hem? Pois bem me considero a astúcia deste reino ao desafiar individualmente cada um de vós, oh injustos saltimbancos, para um duelo de espadas! Vereis como a vossa garganta cortada a mesma filáucia não comporta!" . "Seja! Serei o primeiro, com o mais gratificante gosto! Avançai!" Assim que o chefe saltimbanco se aproximou Loubeluane conseguiu finalmente fitá-lo sem enganos. Uma portentosa figura, de ombros largos e peito enchido lhe surgiu diante de si. Loubeluane nervoso já se encontrava e na sua retórica tinha depositado todas as suas confianças. O dilema erguia-se em seu redor: Apostar na sorte e consumar a sua mentira diante daqueles que apenas a ouviram ou fugir a sete pés condenando ao estupro cinquenta mulheres e à morte homens e crianças.
Loubeluane desceu da carroça.
"Vade retro!" gritou gesticulando despresivamente em direcção aos três súbditos do homem que iria agora defrontar. À medida que em direcção a este avançava a sua confiança representava toda a sua esperança, de tal forma que as mãos não mais tremiam e seus olhos cuspiam o mais ardente fogo, motivado pela raiva, uma raiva não oriunda do facto de ter sido desafiado, mas resultante desta enormemente desagradável situação pela qual Loubeluane poderia para sempre ser relembrado, claro, pelas mais problemáticas razões. As regras foram estabelecidas enquanto o povo trocava a carroça pelo baricentro perfeito pelos dois gladiadores. Gritos de encorajamento e de horror serpenteavam por entre a expectante população daquela irrelevante terra perdida entre vales e montes.
Virando-se para trás, adoptando a mesma atitude que envergava enquanto em cima da carroça, Loubeluane afirmou firmemente: "Nada temeis, alías, sentide-vos sortudos, porquanto o derradeiro espectáculo não é aquele contado, mas o presenciado. Contudo, contado será este durante tantos anos quantos forem possíveis! Ora observai!".
Regressando à posição agressiva com a qual ainda há pouco se exibia, o corajoso camponês acenou com a cabeça e olhos ao seu adversário. Este retorquiu na mesma medalha e um baque uníssono ressoou, assim que a roda de gente recuou um passo em direcção à sua retaguarda. De seguida ambos os homens repetiram o aceno recente e a batalha conheceu o seu início. Ambas as espadas estremeceram ao entrar em contacto a meia altura, mas a rótula de Loubeluane não se manteve igualmente imóvel face ao pontapé que imediatamente a seguir sofreu. Caído no chão, afastado de sua arma, urrando de dor e aflição, ignorou completamente a escaramuça onde até há pouco tempo participara e agarrou-se ao osso que imediatamente largou por nojo, concentrando-se unicamente no seu dilacerante sofrimento. Deste modo foi incapaz de reparar no objecto que sobre a sua cabeça pairava, um objecto que haveria de descer e aterrar no seu pescoço, libertando-o com efeitos imediatos da dor que no joelho sentia. Efectivamente, quando os seu torso já não lhe pertencia a população não teve alternativa senão correr em direcções espontâneas, espalhando-se desordeiramente por entre as casas, levando o mais importante pertence ou uma arma de defesa e correndo de seguida em direcção ao arvoredo e à noite, pois apenas ambos a protegeriam. Ainda assim os quatro saltimbancos de imediato seguiram a sua promessa à risca e atrás dos aflitos correram, distribuindo ágil e eficazmente marcas de ferro naqueles que mais próximos se encontravam.
A vila foi pilhada, mas pouco dela retiraram os bandidos, que não só nada de novo ou farto encontraram, como também nisso não encontravam a sua motivação. A dor na face dos inocentes sim, essa era a sua verdadeira depravação. E a vivacidade da vila não seria possível sem a presença de quem a habitasse. Ora, à vivacidade da vila foi retirada toda a vivacidade. Crianças esquartejadas no chão, penduradas no topo de casas, mulheres desprovidas de flores, homens deitados sobre o sangue que outrora a uma distância tão semelhante servia um tão nobre propósito.
Na mentira colocou toda aquela gente a sua esperança, querendo acreditar que em tempos escuros a segurança lhe era assegurada. Em ideias vagas e vazias colocaram as suas vidas, sobre a oratória intrusiva assente em ideias desejáveis mas não fazíveis que a todos naturalmente apelavam adormecera a consciência. Numa única pessoa que alegava ser capaz dos mais brilhantes feitos viram a luz e, quando esta se apagou imediatamente, tarde demais para todos os esperançosos já era. O bom senso, ainda que em condições precárias, é sempre necessário. E Loubeluane personificou a desgraça que é a perfídia! As condições estavam reunidas, pensou ele, para o seu mais glorioso momento, mas, não pensou ele senão serodiamente, também estas abriam caminho para a mais humilhante derrota pública, da qual em parte a população fez parte, permitindo-a, incitando-a! Com efeito uma talha considerável das promessas do bravo camponês seriam cumpridas, ao ser fonte de inspiração para as gerações vindouras, aqueles que na sua falsidade encontrariam perniciosas características e repudiá-las-iam! Loubeluane seria relembrado, ainda hoje é de novo evocado, em nome de um bem maior que não defendia, a verdade. Assim deu origem a um desconhecido e honroso provérbio: "Língua célere e afiada não enverga espada".

Dormide bem Loubeluane, tu'história será contada durante tantos anos quantos forem possíveis!


César Editoras




sábado, 17 de setembro de 2016

Projecto Musical "Emerge-Me!" Termina

Esta semana chegou um curioso e-mail à central de informação da César Editoras, assinado por André Lazarra que, nesse mesmo momento, defecava na casa de banho ao lado. Esperámos que ele terminasse e saísse para nos esclarecer pessoalmente as suas vontades.

Agora para os nossos leitores, o Consultor Linguístico explica-se:


"Já porventura se hão indagado a razão pela qual baptizei o meu primeiro projecto musical com o nome «Emerge-Me!»? Pois bem, não vejo melhor altura para vos colocar à disposição esta informação do que agora mesmo. Este primeiro projecto, como o nome tão claramente indica, tinha e teve como objectivo fazer a minha carreira musical «emergir», pelo que eu pedi-me, a mim mesmo, aos céus e à guitarra, capacidade e inspiração que me colocassem num patamar de reconhecimento e admiração capazes de sustentar futuros projectos. Uma carreira musical muitas vezes se assemelha em muito a uma pedra que rola. A sua intensidade terá sempre de aumentar, se desejar manter uma rota. Assim o primeiro empurrão está dado, empurrão que me coube somente a mim. Assim aproveito para anunciar o meu segundo projecto, que usará o meu nome e nada menos. Esse será o rolar da roda que, como tudo, terminará, mas conhecerá a mais gloriosa trajectória antes de embater num Pinheiro e ruir como todas as coisas sujeitas à acção humana. Mas tal não será possível sem o contributo (monetário apenas) daqueles a quem a minha música chega, de forma acidental ou não".


No total André Lazarra, através do seu projecto musical Emerge-Me! lançou dois álbuns, "Emerge-Me!" e "Numa Mercearia em Monção", e um álbum de Lados B, de nome "Itens Obscuros: Uma Colecção de Inseguranças", todos disponíveis ilimitadamente seguindo o link disponibilizado. 


Lenocínio Baptista, advogado estagiário

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Desacordos

Regressamos como prometido e como esperado.

Na primeira assembleia geral dos membros da César Editoras realizada esta quarta feira cujo intuito é o planeamento do trimestre Outonal nada de extraordinário ou novo aconteceu.
Em primeiro lugar, nenhum membro do staff César-Editoriano se demonstrou disposto a tomar a palavra, identificar e expor erros, pontos positivos ou outros aspectos de relevo merecedores de ser salientados. Em silêncio permanecemos cinco minutos. André Lazarra verificava se o seu copo de água manifestava manchas de prévias utilizações, ao passo que Lenocínio fingia escrever algo importante numa folha amachucada. Joaquim Orduras, presente e finalmente em território vimaranense, olhava o tecto e foi o primeiro a avançar uma ideia. "As obras conseguidas no Verão deixam a sua marca, embora a sua eficácia possa levantar aceso debate". Lisboa há tempos que não se molha. Com efeito uma pinga caía do tecto intermitentemente, aterrando num jarro disposto a aprisioná-las. Esse mesmo jarro, há várias horas assim destacado, havia enganado Lazarra, que dele para o seu copo água verteu, seguindo-se o silêncio dos seus imperturbáveis colegas.
Após a intervenção do poeta, cujos olhos permaneciam ainda no tecto, Lenocínio levantou os olhos das duas linhas já escritas e fitou-o friamente. Esta sala de reuniões, uma alcova anteriormente destinada ao arrumo de lixo, havia sido por si recuperada, "até ao último detalhe", dissera o advogado estagiário. A sala de cima, uma casa de banho nunca antes utilizada, também havia no período de veraneio por si sido trabalhada ou, noutros termos, desmontada. A recuperação do tecto, como em Junho aqui foi feito público, era da mais urgente iminência. Lenocínio nele decidiu trabalhar grande parte de todo o tempo que guardaria para, sem pagamento ou brio, recuperar o Beco do Julião. O jovem estagiário orgulhou-se não só do trabalho desenvolvido, como também da rapidez com que o executou. Esvaziou e limpou a nova sala de reuniões, comprou uma mesa redonda e branca no IKEA, roubou tinta branca e pintou as paredes, destruiu a canalização do tecto e arrancou a casa de banho do chão malvado. E agora, uma pinga caía novamente. Desceu de novo o olhar para o papel gatafunhado, pensativo. Joaquim continuou, em parte absorto: "Uma pinga de água, agora de água turva e pesada. Uma pinga capaz de transmitir a maior incerteza ao seu consumidor. Sinceramente não concebo com facilidade todos os males que tal acção me poderia conceder. Reparai com atenção na forma manhosa como se desprende do tecto e o abandona". Interceptando uma pausa mais longa e de igual modo o pensamento Lenocínio ergueu-se da sua cadeira e em cima da mesa colocou a mão direita, deixando à esquerda uma série de movimentos erráticos. Lenocínio garantiu ao poeta recostado à sua frente que todo o seu trabalho havia sido feito com o maior dos brios e vontades, admitindo também que não tolerava que este seu "colega" (e fez o gesto) passeasse a totalidade de uma estação pelas belas planícies europeias em busca de "inspiração" (e fez o gesto), em detrimento de contribuir com algo efectivo e prático para a empresa. Lenocínio sentou-se furioso, ajeitando o cabelo caído para o lado errado, pelo que caiu outra vez e de novo pediu para ser ajeitado. Ao ceder Lenocínio perdeu a paciência e esta saiu de si na forma de um berro a meia altura e uma palmada forte no cimo da mesa redonda e branca. Joaquim Orduras ergueu-se respirando fundo e deu a entender aos seus colegas que ia imediatamente dar início a uma longa e pausada admoestação à atitude do jovem advogado estagiário, aproveitando para defender a sua arte e a vida contemplativa pela qual desde cedo optara. No entanto, no momento em que todos os olhos esbugalhados em si repousavam, fez uma vénia à mesa e saiu da sala, levando consigo o seu chapéu pendurado numa viga da parede. À porta encontrou Viktor Khazyumhov, zelador, que colocou apenas um pé dentro da sala. Ao olhar em redor emitiu um esgar bastante pronunciado e seguiu o trilho de Orduras.
Sentadas à mesa restavam três pessoas, até ao momento em completo silêncio e inquietação. Lazarra de novo inspeccionava o copo e, de quando em vez, dava tragos na sua água, demonstrando o seu interesse e atenção nos assuntos do seu empregador. A raiva de Lenocínio não esmorecia e na sua cadeira já não encontrava qualquer conforto, ou no facto de nesse mesmo dia ir jantar com amigos que a Lisboa não vêm com frequência. O número de cervejas a que se tinha permitido já não lhe interessava e as duas frases que tinha escrito (temas de conversa que não o fizessem parecer aquilo que deveras é) acabariam num lixo qualquer da cidade, como ele um dia. Assim decidiu-se atirar ao escuro abismo da aleatoriedade e esperar cair quando o chão resolvesse aparecer. Considerou, até, não ir, mas a sua alternativa, dormir às escondidas no Beco do Julião, não lhe pareceu a melhor nesta situação, como doutras tantas vezes pareceu. A irritação tornava-se numa grave crise existencial e num denegrir da cor dos dias. Lenocínio já os contava, esperando pelo fim-de-semana, mas nele nada de bom vendo, porquanto este pequeno sofrimento seria seguido de mais uma semana de maior dor. Um ciclo vicioso. Para nada já caminhava. Não pensava em férias, na terra de seus pais e no abrigo em que esta consistia, nos seus amigos que havia perdido, naqueles com os quais fazia sérias cerimónias e nas benesses do tempo livre, livre para pensar nas coisas que o empurravam para a terra, a única coisa que neste momento o era capaz de receber de braços abertos. Quão rasteira era a sua vida! Sempre colado ao mais baixo lado de tudo. Nem na possibilidade da riqueza intelectual, que mantinha debaixo de olho mas à qual nunca se havia dedicado, encontrava conforto. Sempre que em algo matutava, sempre que o seu esforço era colocado nalguma coisa necessária, boa ou má, era imediatamente transportado para a dimensão do falhanço, por si ou por terceiros identificado. O seu esforço intelectual a conclusões auto-destrutivas o levava, o esforço prático a resultados insignificantes. E agora trabalhava numa empresa criminosa pertencente ao final da cadeia alimentar, onde apenas as refeições lhe eram pagas e a estadia conseguida pela calada.  Na sua maioria os erros do foro prático eram por si identificados, num ignóbil e desnecessário festival de autocrítica, mas hoje este frequente exercício havia sido conduzido por Joaquim Orduras!, um homem dedicado somente à contemplação e à busca de "inspiração", não ao seu mais nobre uso! Que maior humilhação poderia sofrer? Diante das únicas pessoas com quem poderia algum dia aspirar a estar com frequência no futuro próximo. Que quereria isto dizer da sua vivência? Que permaneceria para sempre no fundo da cadeia alimentar social, essa posição que alguém terá sempre de ocupar?
Sem olhar em seu redor, sem noção das suas vizinhanças, encontrando finalmente o conforto da cadeira, recostado nela bem fundo e de mão embutida no queixo, havia nesta sala pensando passado várias horas, e nisso reparou quando pela janela viu a luz amarela de um candeeiro de rua espalhada na parede do prédio do lado. Os seus colegas há muito já deviam ter saído e Lenocínio, ainda absorto e incapaz de pensar em qualquer coisa arrastou-se para o colchão onde passaria mais uma noite.


César Editoras




quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Das Férias e Afins

A César Editoras permanecerá de férias indefinidamente, embora planeie regressar à labuta nas primeiras semanas de Setembro.
Compreendemos quão incorrecto foi não ter havido qualquer tipo de informação relacionada com o nosso presente estado, de ócio e lascívia, nos momentos que antecederam o mesmo. Ainda assim, o número de visualizações das nossas páginas moveu-se de forma lenta e pouco significativa, algo indesejável pelos motivos óbvios e bastante simpático pelas razões agora detalhadas.

Informamos agora que apenas no dia de ontem nos foi lembrada (via lembrete de telemóvel, extremamente mal calculado) a existência do terceiro episódio do Por Portugal A Fora, "abandonado" em finais de 2013. A sua obrigatoriedade, contudo, é uma questão merecedora de aceso debate. Mas não hoje, amanhã ou nas nossas subsequentes semanas de lazer, apenas no vindouro ano, no qual a famosa desculpa assente na maior quantidade e qualidade de material será amplamente utilizada.

Desejando-lhe umas agradáveis férias,

César Editoras

sábado, 23 de julho de 2016

Ensaio 2º : Lenocínio Baptista

Lenocínio Baptista: "Alegrai-vos! Pois o encontrastes!"

Aquela que considero ser a mais comum das situações, a mais eficaz e utilizada prática pelas figuras de autoridade da Igreja Católica é a ideia da aproximação de Deus ao ser Humano. Quanta hipocrisia. Coube, cabe e caberá sempre ao ser humano tomar a iniciativa e chegar-se a Deus, com o simples pretexto de que Deus para nós já caminha. Talvez o caminho seja longo. A ideia de ter sido encontrado por Deus é uma tremenda ofensa para a divindade omnisciente e criadora de todas as coisas. Na verdade a própria ideia da difusão da fé cristã, da mensagem de Cristo, a evangelização, é uma contradição, tal como os meios vis de outrora.
Essencialmente Deus é um ser omnipotente e absolutamente bom, conhecedor de tudo e criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Uma descrição ambiciosa. Assim sendo, porquê criar a Terra e depositar nela a semente do mal, com a famosa e corrupta desculpa do livre arbítrio, em detrimento de nos ter oferecido, a nós Humanos, de imediato o Paraíso? A liberdade do Homem e a sua propensão para o sofrimento, inevitavelmente inerente a qualquer vivência, foram previstas pelas acções calculadas de Deus. Não nos incute directamente o mal, mas permitiu-o e permite-o. Poderá não ter criado seres perfeitos, apenas à sua imagem, mas aí cai na sua armadilha. Um Deus soberbamente bom não criaria nada capaz de sofrer, pois não erraria. Achar esta "criação" natural seria como considerar natural a tentativa de construção de um Frankenstein, analogamente: Não é perfeito, é criado à nossa semelhança, o seu sofrimento é previsível senão certo e deliberadamente não impedimos o seu sofrimento. A colocação de certas questões é curiosa.
Outra questão curiosa, afastando-nos ligeiramente do tema, é a ideia da evolução, aceite dentro da Igreja Católica e compaginável com a existência de um Deus, a causa primeira de todo este e outros processos. Mas será mesmo? Visitando o afamado jardim zoológico de Berlim passei vagarosamente pelo habitat dos primatas, principalmente dos Chimpanzés. Olhando para ele reflecti. "Este organismo não viajará para o céu, não possui alma". Note-se que a alma, na perspectiva cristã (que aceita de igual modo qualquer visão criacionista), é facultada a todo e qualquer ser humano e não é o resultado da evolução. Note-se também que a doutrina da Igreja ainda não deixou para trás a ideia de que quer Adão e sua esposa existiram materialmente. Regressando ao chimpanzé: Se Deus confere a todo o Homem uma alma, mas não a todo o primata, a partir de que momento começou a praticar estas oferendas espirituais? Há vários milhares de anos o Homem não era muito diferente deste chimpanzé enjaulado que falhou na sua evolução para um ser racional. Quando começou a conferir almas? Porque razão não as deu ao último que não as recebeu? É uma pergunta complicada. Chegados ao céu, veremos homens primitivos, mas mais parecidos connosco do que com o chimpanzé que vislumbrei?
Por fim, terminando com as ideias com as quais iniciei este debate uni-pessoal, considero as várias tentativas de justificar a aproximação de Deus ao Homem uma forma de justificar a aproximação contrária, a única que hoje faz sentido e o fará no futuro, posto que a presença do Deus que guia e protege o Homem na sua criação e a evolução do pensamento humano são inversamente proporcionais. O Homem projecta-se para um Deus elusivo, tentando nele encontrar sentido para a sua vida, que algo de superior e menos terreno necessita. Deus foi necessário, hoje não o é. É, aliás, uma pedra no sapato, se me for permitido colocar assim esta questão, é o motivo de constantes atrasos e dogmas do ser humano que bloqueiam o livre pensamento e as verdades estruturais do animal que o Homem é. O Homem refugia-se numa ilusão, numa presunção e assim vive iludido. A vontade/o desejo de algo ideal e perfeito é diferente daquilo que é a verdade, a realidade. O próximo estádio evolutivo do Homem será aquele no qual as amarras de um Deus não o prenderão e este poderá viver como a espécie o exige, ciente. Talvez, quiçá, também em paz, dado que em nome de nenhum Deus se matará e a intolerância associada a uma crença não se manifestará. Contudo, ao passo a que evoluímos e num mundo muitas vezes determinado por preconceitos, é provável que o Homem se destrua a si mesmo antes de perceber quão limitado esteve nos anos antes. Assim deixará uma marca delével num planeta englobado por uma catástrofe natural ou artificial que se manterá como sempre se revelou: Um bocado de rocha flutuando no espaço, longe de tudo, irrelevante.

Lenocínio Baptista, Advogado Estagiário



sexta-feira, 22 de julho de 2016

Ensaio 1º : André Lazarra (A Vida e A Operação Plástica)


Ensaio de André Lazarra, "Uma Actualização"


Desde tempos imemoriais que o Homem se combate a si mesmo e escolhe negar-se. A dicotomia ou distância entre a consciência e o seu corpo dão-lhe por natureza ao as mais variadas razões para se querer inclinar mais para o lado "superior", em detrimento do "inferior". Não afirmamos, claro, que o Homem tenha as máximas ambições intelectuais, apenas que o seu instinto animalesco de auto-conservação e sobrevivência encontra-se, está claro, bastante presente, tal como as ameaças a este e a tomada de conhecimento destas pelo ameaçado.
Para o Homem o corpo é algo esquisito. Pense-se simplesmente numa única e isolada parte dele, como uma mão ou um pé. O que são eles sozinhos, senão algo extremamente perturbador? O Homem é, essencialmente, uma consciência. Quando nos deitamos na cama, estendidos ao comprido, e vislumbramos a ponta do nosso pé, a quase dois metros de distância é curioso considerar que "aquilo ainda somos nós". O corpo, como sabemos, caminha para a decadência e leva consigo a consciência que comporta.

Mas nos tempos que correm a importância dada ao exterior, ao invés do interior tem-se tornado excessiva. Isto acontece porque as pessoas começam a julgar-se a si mesmas pela capa e esperam o mesmo das outras em relação a si. Não é possível conhecer milhares de pessoas pessoalmente no curto espaço de tempo de que dispomos, pelo que a imagem tende a ser, para demasiadas pessoas, um sumário das nossas qualidades. Quando se é famoso esta situação torna-se clara. Existe portanto uma imagem exterior, pela qual o indivíduo é sobretudo reconhecido, mas uma vertente pessoal que este tenta esconder ou reservar para si que, quando descoberta, aparece em todos os noticiários indignos, mesmo que seja o tipo de pão que consome ao pequeno almoço. Mas quando essa descoberta é embaraçosa, e altamente contrastante com a imagem que a pessoa pretende exteriorizar, compreende-se a necessidade de camuflar tais verdades.
Aquilo que se pretende ser já não se encontra totalmente na esfera cognitiva, mas na esfera da criatura, isto é, o esforço pessoal não se traduz na busca de uma gnose corpulenta, mas de um corpo e imagem que evitem perguntas do ulterior âmbito. Assim se compreende que tantos famosos vivam mais à base da imagem e não do seu trabalho efectivo, como aquela desprezível família arménia que, por ter tido sucesso nos negócios e contactos nos EUA, possui agora um reality show onde influencia incorrectamente as massas e lhes incute estes valores erróneos abordados neste texto.

Tal enfoque no exterior pode ser uma tentativa de perpetuação, aquela de uma atitude, de um "look" que vigorará durante uns anos e será reconhecido ainda depois de substituído, mas na César Editoras não pensamos desse modo. Para nós este enfoque é uma tentativa de moldar a nossa aparência e subjugar a decadência do corpo, tal como fazemos com o nosso intelecto. A operação plástica não é mais do que a tentativa de dar ao corpo a identidade da gnose e assim revelar-se mais facilmente ao mundo, ao mesmo tempo tentando negar as diferenças entre ambas as realidades e o domínio da física sobre a psicológica. O Problema é, contudo, bastante fácil de entender, imediato: Uma pessoa com dois dedos de testa não é aquela que prolonga a sua gnose através da imagem, pelo que aquelas que o fazem exteriorizam geral e paradoxalmente a imagem de uma gnose pouco evoluída. Por sua vez o seu problema é a compreensão inata e involuntária da condição humana, ou seja, a consciência da finitude, inerente a um bicho temporalmente limitado ciente deste mesmo facto aterrador. A tentativa de se exercer o mesmo domínio e controlo sobre o corpo que se possui sobre a gnose e a consciência, não surte geralmente efeitos cuja duração é a pretendida. Ao passo que a imaginação e cenários que de si decorrem são infinitos, o corpo é um meio limitado. A operação vai de encontro às limitações do corpo, tentando de certo modo maximizar o seu raio de acção, dominando o que é passível de ser dominado no foro da decadência. "Eu tenho em mim todos os sonhos do mundo", disse o poeta outrora. Mas a sua realização é anulada pela condição do Homem. E este facto, esta percepção leva a uma série de constantes e fundamentais repressões aos mais altos níveis. A operação plástica, curiosamente é uma luta contra esta condição humana. Quão curioso.

André Lazarra, Consultor Linguístico

sábado, 9 de julho de 2016

Beco do Julião em Obras

Discordaríamos da ousada alma que nos indagasse "Mas não já estava?". 

De facto a natureza decadente e degradada dos nossos escritórios poderá enganar qualquer um. Desde o momento em que o ocupámos, também durante o breve período de tempo em que o abandonámos, até agora o Beco do Julião tem o aspecto de uma obra de recuperação que há muito se encontra estagnada. 

Ao longo do seco período compreendido entre os dias 14 e 27 de Julho a equipa da César Editoras irá dedicar-se não só às tarefas que regularmente desempenha, como também à recuperação do Beco do Julião. Mas em que consiste esta recuperação? O que é possível e necessário efectuar?
Saliente-se, pelas razões evidentes, que devido ao cariz obscuro das nossas actividades não convém à nossa empresa refazer a fachada ou abrir as janelas cimentadas ao público que, espreitando, se assustaria e contactaria por certo sem demoras as autoridades. Se até ao momento nos havemos comportado como quisemos sem repercussões legais frequentes, neste mesmo registo nos manteremos. 

O Projecto:
  • Ligar o Rádio e Tocar Townes Van Zandt.
  • Substituir as tábuas de madeira podres que compõem o chão, exterminando os ninhos de ratos e doseando o chão com valentes quantidades de veneno.
  • Separar a retrete não-funcional da canalização deficiente e cavar um buraco de vários metros até à terra capaz de absorver várias quantidades de fezes e ocasionais diarreias, vomitados e animais.
  • Preencher enormes buracos no chão do segundo andar, reforçando também as tábuas instáveis.
  • Arranjar telhado de modo a impedir novas infiltrações.
  • Limpar quartos inutilizados e criar uma cozinha.
  • Deixar um quarto para as companhias de Lazarra, no qual Lenocínio poderá colocar o colchão que guarda debaixo da sua secretária onde tem dormido, pensando que os restantes membros da empresa desconhecem este facto e não infestaram dito colchão com os piores dos Chatos.
  • Proceder à Desinfestação de Baratas, Chatos, Piolhos e Cães Vadios.
  • Reposicionar mesas da Sala dos Computadores de modo a evitar as recorrentes manifestações físicas de desacordo.
  • Redefinir onde são guardadas as armas. 
  • Reforçar exterior do Beco com grades e mais cimento, de modo a evitar novas surpresas com sem-abrigos.
  • Definir estratégias de fuga ilustradas em mapas diversos em caso de fogo, polícia e romenos.
  • Reposicionar paragem de autocarro uns metros para a frente no passeio.
  • Oficializar e formalizar estratégias de intimidação a lojas do chinês das proximidades.

Iremos contratar alguns migrantes para a nossa demanda, a preços que lhes são literalmente incompreensíveis. Se o caro leitor quiser, por um preço moderado, estagiar connosco e exercitar as suas capacidades de liderança envie-nos um e-mail para cesareditoras@gmail.com, de forma a receber todos os detalhes.



César Editoras

sexta-feira, 1 de julho de 2016

A César Editoras no Estoril Political Forum 2016

Durante três dias consecutivos realizou-se no Hotel Palácio do Estoril o Estoril Political Forum, que assim se repete pela 24ª vez, salvo erro. Uma comitiva César-Editoriana deslocou-se ao recinto para assistir às demais conferências. Ao contrário daqueles que as realizaram, os nossos estimados membros pernoitaram numa Residencial perto do Hotel Palácio, não tendo contudo prescindido nunca dos luxos que tamanho edifício oferecia. Não só almoçámos e jantámos todas as vezes que pudemos nas suas salas sem ter pago para tal, já que o controlo era nenhum, como também, ao final do dia, dispusemos de forma jactante e opulenta da piscina que apenas aos utentes estava reservada. E quantas garrafas de vinho levámos!

O evento decorreu natural e pomposamente. O tema, "A Democracia e Os Seus Inimigos", descarada alusão a Popper, associado quase sempre à recente situação britânica foi discutido pelos mais ilustres convidados, embora apenas de passagem pelo mais requintado Timothy Garton Ash, que abordou, com o intuito de expor o seu novo trabalho, a liberdade de expressão.
A questão do Brexit não foi mal aproveitada e colocou-se em causa a questão da Democracia Directa, as consequências da saída do Reino Unido da UE e outros variados temas que nos dão conta de quão globalizado está o mundo nos dias de hoje.

Mas certo tema impulsionou, e de que maneira!, a escrita deste texto. A questão da Integração Europeia: Mais Integração ou Mais Flexibilidade? Maior Harmonização de Políticas de todo o género, um caminho para uma União Política, o Federalismo, ou um retrocesso e consequente menor centralização? Sabemos bem que enquanto Maior Integração não possibilita a flexibilidade, maior flexibilidade permite maior integração. Países de economias fortes, veja-se o independente Reino Unido ou a escondida Noruega, não aderem necessariamente a tudo aquilo a que países mais periféricos e a velocidade diferente aderiram, como o glorioso Portugal ou a estonteante Estónia!
A Flexibilidade é portanto a única opção correcta. Em torno da Maior Integração existe um certo idealismo que vai de encontro a tudo aquilo que se passou na Europa nos séculos passados. A ideia de um "agir comum" é mui linda, mas de forma clara os países europeus têm revelado a sua impossibilidade. A Flexibilidade não é mais do que um primeiro passo para a tal união forte que o federalismo exige. Uma acção tendo em conta as circunstâncias. O sentimento europeu não é mais do que algo incutido às pessoas, não criado por elas, isto é, algo que vai de cima para baixo e não de baixo para cima.
A crescente e gloriosa vaga de nacionalismos europeus, algo que de novo tem de pouco, parece ser ignorada pelos grandes federalistas que não vêm nelas um sinal, um sinal de que algo se passa. Tentar silenciá-los será como esfregar a areia freneticamente dentro da pálpebra por forma a retirá-la de lá.
O nacionalismo é um fenómeno exemplificado recorrentemente em solo europeu. Claro que, face à profunda crise financeira, à valente imigração, às ameaças terroristas que esta também facilita e à crise dos refugiados, os mesmos exaltam-se e dão novas razões à população para fazer a sua bandeira esvoaçar nas ruas.
Relativamente à questão fulcral do Projecto Europeu, "Aprofundar a Integração ou Retroceder, Redefini-la e Flexibilizá-la", a posição César Editoriana é clara.

Mas alguns pontos deveriam ser imediatamente esclarecidos e postos em prática de forma a tornar toda a vivência europeia mais fluída e europeia:

  1. Reenvio de Todos os Imigrantes Ilegais para o seu País de Origem.
  2. Redefinição e Uniformização da política de naturalização e eventual perda de nacionalidades. Recambiações, deportações.
  3. Aperto das Fronteiras do Espaço Schengen. 
  4. Exclusão do País da Bulgária da União Europeia. 
  5. Inclusão do país Ucraniano e Geórgia na União Europeia, sem olhar às consequências.
  6. Agravar e prolongar sanções à Federação Russa.
  7. Preparar Obuses Militares e iniciar segunda Operação Barbarossa.
  8. 3ª Guerra Mundial, mas apenas a Primeira Nuclear.

César Editoras

sábado, 25 de junho de 2016

O Controlo

Certas vezes sucede-se algo que controlado parece, mas que se revela, numa ocorrência constrangedora e repentina, digno da mais gloriosa e exemplificativa entropia. A curiosa capacidade de controlo é muitas vezes sobrevalorizada, por aqueles que controlam e por aqueles que consideram os outros bons controladores. Vede os Cristãos, que colocam a sua fé num ser omnipotente, mas que lhe rezam para que a saúde da sua família se mantenha ao seu gosto. Este tipo descarado de repressão e negação dos factos mantém-se, até quando "aquilo que apenas acontece aos outros" (assim pensa a nossa frágil cabecinha!) lhes acontece a eles! Com tanta ironia na face desta tenra terra, crê-se, através da experiência, ser mais provável fazermos parte de uma simulação de computação, do que o fruto de um ser ubíquo e magnânimo. Mas o que é a experiência senão a Intolerância?

Regressando ao início, o controlo é algo fabuloso, quando se o tem e quando dele há uma ilusão. Certas coisas não são o que aparentam ser, ou, como o ditado popular dos iliterados diz, "Não se julga um livro pela capa". Mas certos tipos de falso-controlo são mais fundos e preocupantes, dado que a pessoa pode muito bem ter lido o livro, mas tê-lo-á compreendido? Porque uma pessoa se pode encontrar em convivência frequente com outras, mas ao mesmo tempo o seu verdadeiro eu estará bem longe, recostado na raiz do pensamento, se assim se poderá colocar a questão. O "Eu" que preside tais eventos sociais não acreditamos poder alguma vez ser aquele verdadeiro "Eu" com quem estamos tão facilmente sozinhos. Tal é facto, mas o caso que analisamos é diferente. Falamos de um eu totalmente superficial em termos de emanações externas acerca de si, alguém capaz de não entrar dentro de si ao ponto de fazer este âmago de si sair, em maior ou menor quantidade. Num grupo onde a conversa é uma constatação factual de ocorrências irrelevantes este "Eu" encaixa-se com facilidade, nem sendo necessária a sua participação na conversa de forma frequente e entusiasmada. Por outro lado, quando a conversa possui um cariz menos reduto e superficial, tal "Eu" encontra-se em maior dificuldade e a sua participação poderá ser necessária, algo que é impulsionado de igual modo pela natureza das conversas, cujos participantes são, em norma, menos. Mas tais situações, aconteçam entre amigos ou não, são menos comuns.

Assim a questão. Considera-se que em cada grupo de amigos existe uma pessoa cujas qualidades dão ao grupo certas características. Um líder e um par, por assim dizer. Não quer isto dizer que o grupo se submeta a este centro. ou que este centro seja tomado como verdadeiro conscientemente. Muitas vezes é o subconsciente que nos move, de forma a permitir o nosso agir tornar-se fluído e não se questionar o mesmo com grandes medos. É um hábito.
Mas será que existe um controlo por parte deste líder? Por controlo entenda-se uma percepção bem fundamentada das dinâmicas e membros do grupo, dos seus gostos, das suas visões. Como vimos, tal é de facto complicado. Significará isso que o grupo não pode ser controlado pelo líder, aquele que mais o influencia, a si enquanto colectivo e aos seus membros enquanto pessoas? Não caberá a cada membro entender se se encontra ou não dentro de um grupo ou não? E assim sendo, o que é um grupo, se a sua composição tão incerta é? Haverá sobre este controlo? Poderá, como nos parece ser razoável, alguém pertencer a um grupo de forma hipócrita, sejam as suas motivações várias ou uma.

Falemos agora sobre o controlo que alguém possui sobre as suas próprias preferências. Nos tempos que correm uma criança nasce no meio de muito sangue e demasiadas expectativas. É-lhe incutida a ideia, desde cedo, de que caminha para algo, algo que deve atingir para ser feliz. Que visão maniqueísta! Mas quando a atinge muitas vezes coisas que não lhe foram incutidas perdem-se. Não dizemos que devem ser incutidas, mas que a ninguém cabe incutir em demasia. A criança deve crescer de forma imparcial e não no meio de uma ideia à qual pertencerá sem alternativa, uma ideia cujo fundamento é ser a única certa, ou "a melhor". Como saberá o rapaz ou a moça que esta é a melhor? É a única que lhe foi permitido conhecer! Mas, a medo, isto é, com medo de ser diferente, uma das situações que lhe ensinaram indirectamente a evitar, a criança defende esta sua crença. "Não vês os outros meninos?", dizem os pais e os chegados. A criança não é uma criança, mas um produto adulterado dos medos daqueles que a educaram, pais e não só, um produto da preocupação excessiva e do receio mais vil do mundo, que as atitudes da criança espelhem aquilo que são os seus pais!
Toda a pessoa é uma e uma só, não existe pré-determinadamente um caminho único e comum ao qual se ordenam todas as ambições por nascer. Ora, agora tudo se torna curioso, quando se pensa que esta situação seria evitável se a criança tivesse seguido o seu rumo sem o excesso proteccionista dos seus pais, apenas com os deveres básicos destes garantidos. Mas as pessoas não pensam assim e chegar-se à frente para fazer o bem à criança e arriscar o seu mal não é ainda uma opção.

Como sabe já defendemos aqui a ideia de que os actos de uma pessoa poderão ser facilmente o reflexo da educação dos seus progenitores. De facto, de facto. Esta situação é evitável, porquanto os pais poderão educar a criança de acordo com as regras e valores da sociedade em que vivem, sem a formatarem imediatamente. Assim não permitem que a criança não assimile os valores sem levantar questões, mas que os compreenda, existindo o risco saudável de com eles não concordar. Os pais são uns guardas-noturno bastante mais interventivos, mas guardas-noturno ainda assim. Haverá uma altura em que a criança poderá desafiar aquilo que lhe foi incutido de forma saudável, para fortalecer os valores que lhe foram ensinados, ou para encontrar os seus. Cabe a todo o corpo de educadores, em especial os pais, permitir esta transição para a maturidade intelectual. Fizeram tudo o que lhes compete, tendo sempre como base uma abordagem saudável.


César Editoras

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Uma Forma de Amparar Um Pelintra

"As nossas acções são o reflexo da educação que os nossos pais nos deram".

Ao proferir-se estas palavras diante de um reguila acabado de cometer a mais grosseira traquinice coloca-se o referido na mais desconfortável situação, considerando que o tolo ouviu e compreendeu a frase que lhe foi dirigida.
Esta asserção não é rebatível e é uma forma menos grave e pertinente de se insultar a mãe de alguém e de, já agora, insinuar que esse alguém, por provir de algo indigno, indigno também é.

A autoridade moral elevada e correcta de um par poderá não deixar qualquer resposta verbal fazível, pelo que o amparado poderá recorrer aos seus meios mais primitivos. Neste sentido é necessária a cautela. Se souber que esta não é a sua situação, pelos vários motivos que se mesclam na sua consciência, destrua esse reguila! Se este mesmo possuir problemas com os seus progenitores, e tal é extremamente possível, afinal ele é um mafarrico, talvez deva considerar não os fortalecer, isto é, dar-lhe razão.

Esta autoridade moral coloca o traquina numa situação de confronto com aqueles que mais chegados lhes são, envergonhando-se quando o seu véu da ignorância aterra no chão ao seu lado. De facto a rebelião é um atentado contra os esforços paternos pois, quando despropositada, entra na esfera da estupidez. Chamará o reguila "estúpidos" aos seus pais? Nas suas costas? Chamar-lhes-á incompetentes, maus pais? Na cara daqueles que presenciam a fortuita rebelião?
Ora, se confuso já era, se na sua cabeça flutuavam pensamentos confusos, difusos e sem uso, neste momento de derrota a sua incerteza aumentará enormemente, mas elevar-se-á a um grau tão soberbo, que o traquina terá, obrigatoriamente!, de procurar certezas, mudar comportamentos, esmagar pontas soltas e dedicar-se àquilo que agora considera virtuoso!
Isto é educação, aquela que os seus pais nunca lhe hão dado!



APARTE:
É também curioso pensar que um computador é uma coisa que não cabe na cabeça do menino Jesus, de forma metafórica e não metafórica.




César Editoras


segunda-feira, 6 de junho de 2016

Planos para Junho

Junho será o mês propício ao acompanhamento, isto é, o mês no qual iremos tentar actualizar todos os itens que até agora hão sido deixados para trás, como resultado da nossa inépcia e alguma ocupação.

A Wikia será o recipiente da nossa maior atenção, tal como eventualmente o Zomato, projecto independente de André Lazarra. Em breve, em detrimento da actual vista da página principal, de modo a não tornar a experiência do leitor exaustiva, iremos apenas exibir links para os vários anos de acção da César Editoras (2011, por exemplo), oferecendo, para cada um, uma pequena explicação dos maiores acontecimentos. Seguindo o link, que o ligará a uma página independente, poderá aprofundar os seus conhecimentos.
O AOTY está praticamente esquecido, mas lá continuamos.
Para ter uma visão geral da nossa actividade nestes meios, visite a seguinte página ou o separador "Redes Sociais" no topo da nossa página: http://cesareditoras.wikia.com/wiki/Social_Networks .

De resto trabalhamos em todos os projectos que anteriormente mencionámos e pensamos reunir, no início de 2017, vários pensamentos e textos César-Editorianos num grande projecto, um Livro. Também começámos a preparar prospecções de mercado com vista a entender se existe viabilidade no Merchandising. Será a marca César Editoras forte, ou associada à ascensão de movimentos de extrema direita na Europa? Da mesma forma, de modo a aferir e averiguar a nossa posição diante do público, iremos desenvolver alguns questionários online, cujas respostas serão, se entendermos ser benéfico, tornadas públicas.

Relativamente aos contactos reiniciaremos sessão no e-mail oficial da empresa (cesareditoras@gmail.com) e responderemos a quem acharmos necessário. Não lá vamos há uns meses.

No Verão viajaremos com o intento de nos purificarmos das malícias do quotidiano citadino. A Cidade usurpou e conspurcou-nos com os seus fumos tóxicos e risos falsos, luzes brilhantes e pessoas escuras. O campo espera-nos e acolhe-nos paternalmente como o filho pródigo que nada lhe dá em troca, senão o respeito e sossego que ambos merecemos e recebemos. A simbiose harmoniosa que o humano foi destinado a conceber, não a célere e inconsequente movimentação que o cimento faculta.
A purificação, a catarse, ocorre e é necessária. Não na praia, não esse descanso ilusório, mas no campo, em contacto com a terra e com o canto ondulante dos pássaros que tão suavemente nos banha os ouvidos. Curioso como somos obrigados a regressar à caverna enquanto forçosamente ignoramos as bucólicas vontades.


O que significa a palavra Filáucia?

César Editoras

sábado, 28 de maio de 2016

Uma Questão Cultural

Há dias uma história chocou o 6 dos 7 biliões da população do mundo, dado que a Índia ficou de fora. Cerca de 33 homens sedaram uma rapariga de 16 anos e procederam à sua conspurcação. O facto é alarmante, mas torna-se ainda mais pasmante quando se pensa que 13 homens tiveram a coragem de seguir o vigésimo. Esta é das poucas situações de cariz extremamente grave nas quais o mau estado físico surpreendentemente supera o psicológico.
A rapariga ficou inutilizada, a todos os níveis portanto. Será um vegetal? Conseguirá ultrapassar esta situação e viver uma vida normal? E quanto tempo precisará para tal? Imagine-se, tem a moça agora 60 anos aos quais se juntaram umas tosses esquisitas. O médico, colocando a mão nas suas costas, pede-lhe um favor, "Diga 33".
Talvez não chegue aos 60 anos, por opção. Em África é costume, face à ultrajante quantidade e facilidade de ataques deste cariz, recorrer à mutilação. Ora, esta rapariga sofreu uma ironia do destino, dado que de facto foi estuprada como desta invasão resultaram, imaginamos, algumas mutilações, que com certeza irão afastar futuros ataques como em África se deseja, mas também futuros amantes, posto que a barreira do trauma, a mais alta, é a mais presente.
Há coisas que marcam uma pessoa das mais variadas formas. Quem a conhece, esta menina, saberá sempre do sucedido e quando esta procurar o conforto daqueles que lhe são chegados envergonhar-se-á sempre do facto de presente nas suas mentes estar o sucedido, mas este não ser, claro, verbalizado. E uma outra constatação torna-se claramente aterradora. É normal que qualquer pessoa prestes a entrar na idade adulta tenha em si todos os sonhos do mundo, incluindo aqueles que não considera fazíveis. Mas mesmo assim caminha para algo, não se sente na plenitude máxima das suas faculdades e sente que que o momento que definirá a sua vida se aproxima e chegará, mas não o conhece. Mas esta rapariga já o conheceu e, para seu enorme desgosto, foi o que foi, e em parte o que será, se alguma coisa for. O momento mais indelével da sua vida, aquele que se considera o mais preponderante na definição e evolução de uma pessoa é aquele que a destrói. Quanta a desgraça!
Mesmo que se torne uma figura relevante na defesa dos direitos das mulheres no Brasil, por exemplo, ou uma personagem de consciencialização dos abusos que serão futuramente cometidos, apenas o será e apenas irá ser ouvida porque quando ainda não era graúda foi vítima do mais iníquo crime.

E a pergunta coloca-se, apenas atendendo à reflexão e não ao debate: Será uma questão primitiva e cultural, na mente dos criminosos?
Provavelmente não, mas não é imediato. O facto de uma pergunta tão imediata não o ser é peculiar.


César Editoras

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Lançamento: Itens Obscuros: Uma Colecção de Inseguranças

O Álbum de André Lazarra, Itens Obscuros: Uma Colecção de Inseguranças, composto por músicas gravadas ao longo do último ano e meio que não entraram nos seus primeiros dois álbuns será lançado dia 28 de Maio de 2016. Note-se que a maior parte destas músicas foram gravadas no telemóvel de Lazarra, pois naquele momento da mais soberana inspiração não estava disponível qualquer outro meio de gravação.

A Setlist:

1. Agreste e Íngreme (3:33)
2. O Auxílio (2:19)
3. Escutai! (1:43)
4. Submetidos à Perfídia (1:38)
5. De Vento Em Popa (2:30)
6. A Cobra Rateira (1:01)
7. Despedida (1:32)
8. Maria de Jesus e Sua Casa Abandonada (1:40)
9. Uma Tarde de Veraneio (2:14)

Como sempre, será lançado via Bandcamp, sob o nome artístico do projecto, "Emerge-Me!".



Lenocínio Baptista, advogado estagiário

segunda-feira, 9 de maio de 2016

O Insecto Colado À Brilhante e Intensa Luz

Ninguém sabe que morre burro, pelo que até na morte ignorante é. A escolha é de cada um, se prefere o facilitismo ou escolhe a o caminho que progressivamente se torna mais leve e proveitoso, facultando àquele que o escolhe a recompensa gradual que o outro ignora.

Assim é com os filmes e com os livros. O filme é algo reduzido, que não oferece uma relação íntima entre o escritor, o verdadeiro responsável pela obra, e o leitor, aquele a quem esta é dirigida. Por esta razão existem prémios para "melhores adaptações", não querendo contudo isto dizer que são boas, fiéis ou justificadas. São apenas as melhores. O estilo de escrita, a profundidade das personagens e toda a rede complexa que preenche as páginas são apenas encontrados num livro e não são reduzíveis a uma hora e meia, existe um custo. Da mesma forma o livro é escrito e a beleza de certos momentos, ou locais é apenas realmente fabuloso quando descrito. Não só o filme usurpa a experiência que o autor esboçou, como também a sua brevidade (e erroneamente subentendida utilidade) é ilusória. O livro, quando da mais soberana qualidade, é lido a um ritmo alucinante e a imersão no enredo é tal que o o passar do tempo é totalmente esquecido. Essa é a experiência que o autor busca, a total e derradeira delícia, a gamela principal, a iguaria suprema.
Será o filme, quando adaptado claro, capaz de replicar o livro e maximizar a aventura do leitor? Não e, se consegue, o leitor deveria ler mais livros e ver menos filmes. Esta é a opinião César-Editoriana. Porquanto ao ver o filme não está em contacto com aquilo que no livro é retratado, apenas um resumo dos eventos principais, eventualmente sendo dado enfoque a certos aspectos que na televisão soam melhor do que no livro. Como dissemos previamente, nem tudo é transposto para o quadrado luminoso que nos ofusca a visão: A crítica social, através das mais descritivas páginas, o pensamento, dificilmente traduzido para o guião, as paisagens, os pormenores acentuados pelo autor da mais exígua mas significante acção, explorada de forma exaustiva.
Como elucidar alguém que propositadamente escolhe esbarrar contra uma parede? Nas palavras do senhor Putin: "Não é possível salvar alguém que se deseja afogar".

É verdade que na maioria das vezes aqueles que lêem o livro e depois visionam a película são fãs do Harry Potter ou de algo similarmente irrelevante para a situação. Não há bom lixo ou mau lixo, há escória e ponto final. Sinceramente, esqueça-mos essa vil mas pesada porção dos casos.
Recentemente uma galardoada série de nome "Guerra e Paz" recebeu valentes críticas, a nível de produção principalmente, dado que maior parte das pessoas que a viram e classificaram o provavelmente nunca hão lido a verdadeira obra. Talvez também não soubessem da existência do livro, de quem era (embora reconheçam o nome do famoso ex-compositor Tolstoy) ou talvez ainda hoje não tenham percebido que é uma adaptação. Que o sucesso não dê este último aspecto por garantido às populações do mundo!
Terão estas pessoas realmente beneficiado do facto de conhecerem agora superficialmente (via 8 episódios) o mais famoso clássico da literatura russa, composto por cerca de 1000 páginas, dependendo da edição? Não. Não só irão esquecer a história e lembrar-se vagamente das personagens, como também quando isso acontecer não irão com certeza querer pegar no valioso calhamaço de literatura que deveria ter sido a primeira escolha. "Já o li", dirão.

Assim a prova está dada, dada e fundamentada. O afogamento parece ser opcional a partir deste momento. "Ler é como numa piscina mergulhar, o primeiro passo é o único que custa dar". Na verdade as tecnologias dos recentes tempos têm vindo a entreter as pessoas de formas diversas, provocando nestas períodos de real atenção cada vez menores e atraindo-as com luzinhas brilhantes, tal como se atrai um veado para o capô do carro. Vidradas e consumidas são incapazes de se focar e entrar dentro de um livro para o ler definitivamente, um livro que talvez não sejam capazes de compreender de forma completa, tal é a vontade de terminar a página, de fazer outra coisa, de ver o que dá na Sic Mulher.
Deste modo uma opção se revela clara: Um livro que não requeira uma atenção tão redobrada, mas com um título apelativo através do qual eu consiga ter uma ideia do que fala, quando me esquecer dele e me perguntarem sobre o que falava o último livro que li.

A atenção é algo que cada cez com maior rapidez de perde. O Homem está habituado ao imediato e para ele vive. Nas artes as correntes dominantes apenas corroboram este argumento, a camada é mais espessa que o manto, algo contra-natural.

Assim sendo não há muito que possamos fazer. Uns lerão, outros irão ter acesso a algo cuja origem lhes é desconhecida e por vontade própria e porque no mundo os segredos resultam da preguiça, babar-se-ão vidrados até o ecrã luminoso parar de piscar. A nossa mensagem é clara e o simbolismo pertinente. Se não a compreendeu, talvez devesse ler uns quantos livros.


César Editoras

sexta-feira, 29 de abril de 2016

A Visita

No passado fim-de-semana visitei com o Lazarra uma exposição de uma senhora mais velha que posso considerar relativamente chegada. Talvez não tenham sido a insegurança, a necessidade ou a experiência as autoras deste convite.
Assim, desembaraçados, decidimos responder com amabilidade à formal abordagem, descartando a confirmação e aparecendo de rompante.
Para nossa agradável surpresa, mas apenas no momento inicial, muitas eram as pessoas que já na simples galeria deambulavam. Agradável e efémera, dado que tanto seria bom que ninguém tivesse aparecido, de forma a podermos observar em primeira mão o fracasso desta exposição ou que muitos visitantes tivessem estado presentes, como fora o caso, para podermos passar despercebidos e não nos sentirmos obrigados a interagir com a anfitriã em demasia.
Mas esta última convencional situação social seria necessariamente a primeira, posto que mais ninguém conhecíamos desta mesma forma e, assim sendo, a vasta maioria demográfica seria voluntariamente ignorada. Cumprimentos desajeitados e relutantes, elogios superficiais e mentiras piedosas. Afastámo-nos.

Depressa estávamos diante do primeiro quadro, sozinho e abandonado, como todos os outros quando não eram observados custosamente durante uns merecidos segundos.
Um breve silêncio intercalou-nos.
Na César Editoras discutimos já aqueles indivíduos que transformam um Hobby numa profissão, porque o tempo e o dinheiro de um terceiro os permite. Geralmente não conhecem as dificuldades de um verdadeiro artista que não recebe comentários do estilo "giríssimo", e na sua maioria pessoas desta gama dedicam-se às artes plásticas e à pintura, ou a ambas quando não sabem realmente o que fazem. Infelizmente a situação é alimentada pela cultura ignóbil dos seus amigos, que a suportam, sentindo que de algo fazem parte, incapazes de analisar criticamente o que é exposto nas paredes, em seu seu detrimento vendo sempre a cara do seu criador na tela suja. Aquele capaz de entender a vergonha na qual está inserido não pode deixar de se limitar ao pensamento e à conspiração sigilosa, posto que o acto de se chegar à frente e denunciar a maioria seria recebido por esta com uma manifestação de incredulidade e repreensão geral, apoiada consecutivamente após a opinião dos outros ter sido previamente exibida e o caminho se encontrar livre para o olhar de espanto.

Eu e o Lazarra enquadramo-nos neste grupo silencioso, que se limita a agir no seu próprio interesse e procura constantemente uma oportunidade onde a intervenção se justifique. Este talvez seja um desses momentos, isto é, este texto.

Após o silêncio, que de constrangedor nada teve, Lazarra tomou a palavra. "Será isto arte?", perguntou. "Talvez não nos caiba decidir", respondi, adiantando "Talvez a sua arte seja extremamente subjectiva e passageira, facilmente esquecível, mas nós, homens de bom senso, podemos na sua obra disparatada encontrar razões para discutir estes temas. Porventura a sua arte será, a nosso ver, originar estes momentos de discussão e. desse modo, a nossa vinda não se reduz à necessidade de espelhar as boas maneiras que os nossos pais nos incutiram". Mergulhado no mais profundo pensamento Lazarra sugeriu que nos dirigíssemos ao quadro seguinte não fosse a anfitriã, que a uma galinha se assemelhava pelo andar aleatório e carente, indagar-nos porque razão nos prendíamos àquele quadro em específico.

Este novo quadro, de baixa riqueza e esforço, talvez simbolizasse a necessidade fisiológica mais escura do ser humano. Uma pincelada inconsequente preenchia a tela branca, guarnecida pela seguinte legenda: "A vida". Será a nossa vida uma pincelada inconsequente de um ser supremo? Não. Deparados com uma curiosa visão fora daquilo para o qual viemos preparados fomos forçados a abordar a ilustre e desocupada artista. Esta, sorridente (demais), explicou-nos que "a vida" referia-se à sua, a pintura, e que esta poderia ser qualquer coisa, qualquer expressão é legítima. Para nós, e tendo em conta a valente sangue-suga que o seu marido tem agarrada à sua pélvis, esta explicação é semelhante àquela famosa frase "A música é a minha vida". Errado, Tatiana, a tua vida, antes de se tornar dependente do AIDS, é despachar o meu pedido, antes que as batatas arrefeçam.

Não há mais a adiantar, senão aquilo que já várias vezes defendemos: A superficialidade rege a nossa sociedade e o seu jugo não terá fim.
O nosso aborrecimento perante estas manifestações ridículas daquilo que é considerada a cultura em Portugal é claro.


César Editoras